Uma comissão em São Bento que é um atentado à Autonomia

Esta comissão na Assembleia da República para avaliar a forma como foram combatidos os incêndios, em agosto último, é de “bradar aos céus”.

Indignação! Revolta! Raiva mesmo! Estes só podem ser os sentimentos dos madeirenses e dos porto-santenses, dos verdadeiros, dos que sentem a Madeira, mesmo até não nascendo cá. Enfim, de todos os que amam a nossa terra, que não se esqueceram da forma como fomos aviltados, prejudicados, desprezados, menosprezados e explorados durante séculos.

Em 1976, felizmente, começámos a poder escrever a nossa história, a ditar o nosso destino, a decidir o nosso presente e futuro. Com a Autonomia, a Madeira pôde deixar para trás a escravidão e as cordas do atraso a que nos queriam acorrentar e trilhar o caminho do desenvolvimento.

Um caminho que a trouxe à prosperidade, a uma terra desenvolvida, a resultados acima da média nacional em quase todas as áreas. Mesmo partindo de bem lá para trás.

Com medidas pioneiras, bastas vezes replicadas no Continente (algumas vezes até despudoradamente apresentadas como inovações a nível nacional, esquecendo-se do território ao qual vieram beber as ideias), com obras inovadoras, com programas na Solidariedade, na Educação e na Saúde que são referenciados.

De repente, parece que todo este sucesso está a causar “urticária” a nível nacional. E aproveita-se qualquer coisa para dizer, como costuma fazer o mais soez invejoso, que afinal a Madeira não é o exemplo da modernidade, do sucesso de que se tanto fala.

Aliás, bastou ver a forma como peritos, ou melhor, ditos peritos – porque da Madeira pouco ou nada conhecem e porque, como infelizmente se veio a perceber, nem do seu território conseguem cuidar – se referiram aos incêndios na Madeira. Que os nossos serviços eram ineficazes, pouco conhecedores, que os nossos governantes eram incompetentes, que não tinham estado presentes desde o início, etc, etc.

Poucas semanas depois, aconteceu o que toda gente sabe: incêndios de norte a sul em Portugal Continental, políticos nacionais ausentes (do PSD e do PS), os ditos especialistas sem conseguir resolver o problema, casas ardidas e mortes (na Madeira, nem arderam casas nem morreram pessoas).

Pouco ou nada se ouviu de quem tanto verberara os nossos operacionais, as nossas autoridades. Os especialistas, é caso para dizer, colocaram “a viola no saco”.

Quando se pensava que ficaria por aqui não é que, com o PS à frente das hostilidades, se manteve a ideia peregrina de se discutir, na Assembleia da República, o que se aqui tinha passado.

E então assistiu-se a um desfile de gente que nada sabe como combater incêndios numa ilha como a Madeira a falar, falar, falar. E, como de costume, a nada dizer.

Mas, o que mais deve indignar qualquer madeirense que se preze, independentemente da sua cor política, é ver a Assembleia da República, fruto da iniciativa do PS e de mais alguns, a tentar se meter em área que está regionalizada, colocando a “foice em seara alheia” e mandando às urtigas uma Autonomia que custou-nos tanto a alcançar, a realizar.

Esta comissão foi, verdadeiramente, um atentado à Autonomia. E deve servir de alerta e de toque de reunião para todos os madeirenses, pelo menos os que são autonomistas. Porque há quem não o seja. Uns que nasceram cá, uns que viveram cá. Que até foram eleitos pelo círculo de cá. Mas, que não são madeirenses. Não porque não tivessem cá nascido, mas porque nunca aprenderam a amar a nossa terra.

Mas, infelizmente, em vários partidos de cá, há mais destes madeirenses: lestos a agachar-se ao continental e à República, cegos na hora de defender a nossa Autonomia!

Já é altura dos madeirenses, repito dos MADEIRENSES, se unirem e combaterem estes laivos anti autonómicos. Não se pode deixar, temos de gritar bem alta a nossa INDIGNAÇÃO!

Ângelo Silva