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Crónicas

E para quem não é jovem nem idoso?

Já entrei nos “entas” o que me coloca naquela fase em que não sou considerado jovem ( embora me sinta como tal :-) ), nem tão pouco estou perto da idade sénior. Ou seja aquela fase estranha e ingrata em que para o Estado não sou “carne nem peixe”, só sirvo para contribuir e quanto mais produzo e faço mais tenho que entregar. Recordo-me de ter feito o cartão jovem, quando era elegível para tal numa época em que o mesmo servia de muito pouco e de o ter usado umas duas ou três vezes, cartão esse que vai até aos trinta. Até aqui quem tinha direito a um desconto na tributação, tinha que estar compreendido entre os dezoito e os vinte e seis ( embora na prática pudessem usufruir de alguma condições especiais até aos trinta) , com rendimentos de trabalho dependente ou independente pela primeira vez, após o ano de conclusão do ciclo de estudos igual ou superior ao ensino secundário.Agora o Governo aprovou em Conselho de Ministros uma lei em que estende essa abrangência até aos trinta e cinco.

Os idosos que já muito descontaram e serviram o país têm também eles vários planos especiais e descontos que vão dos transportes, ao alojamento passando pelas viagens. Complemento solidário, preços especiais em bilhetes e medicamentos. Sou a favor, para que fique claro que apoiemos quem estuda e entra no primeiro emprego, para que possa ter condições de ficar por cá e de por cá se estabelecer em vez de emigrar, sendo que esta é apenas uma das razões estratégicas que pode ajudar a fixar a população mais nova no nosso país. Muitas outras estão ainda por ser implementadas e urge colocá-las ao serviço dos que podem acrescentar valor. Assim como sou a favor de que quem muito contribuiu, quem trabalhou uma vida inteira e ajudou a que outros seguissem o mesmo caminho, mereça o devido descanso e reconhecimento com oportunidades para gozar um pouco a vida sem grandes sobressaltos por muito parcas que sejam as reformas da maioria. Sou a favor de tudo isso mesmo não tendo tido as mesmas oportunidades quando era jovem o que me fez emigrar, mas que, olhando para trás, não posso dizer que tenha sido mau, acho até importante termos uma experiência lá fora, que nos torne mais fortes, independentes e resilientes, estando em contato com diferentes culturas e outro tipo de problemas.

A questão é que por apoiarmos todos estes que se enquadram neste intervalo que referi em cima, não acho justo nem lógico que nos esqueçamos dos que hoje em dia se encontram no mercado de trabalho e são a força motriz do país. Basicamente aquilo que o Estado me diz é, tens que trabalhar “que nem um cão” para ganhar umas migalhas, dessas migalhas retiramos-te grande parte delas para depois te darmos uma ou duas quando já não conseguires subir uma escada, até lá não tens tempo para quase nada senão tentar ter o mínimo de condições para ti e para a tua família. E assim vamos caminhando, grande parte de nós dependendo do Estado porque é essa a ideia, dependermos para nos sentirmos agradecidos. São poucos os incentivos a quem quer produzir mais, quem se esforça para ser bom naquilo que faz e para ter o mínimo de qualidade de vida. Habituámo-nos a um Estado paternalista e como praticamente não conhecemos outro achamos que isto assim é que é bom e de outra forma deixaríamos desguarnecidos os que mais precisam. Pagar, pagar e pagar. Nada mais errado.

Isto só faz com que os melhores vão embora e desenrola também uma série de processos de esgotamento psicológico e emocional que torna a vida de muitos, absolutamente insustentável, perdendo-se assim os melhores anos de vida e levando ao fracasso da maioria das relações. É tempo de perguntarmos, então e nós?