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Milhares de pessoas protestam nas principais cidades pelo direito à habitação

Foto António Cotrim/Lusa
Foto António Cotrim/Lusa

Milhares de pessoas juntaram-se hoje na Alameda Dom Afonso Henriques, em Lisboa, para exigir "casa para viver" e o cumprimento do direito à habitação, constitucionalmente consagrado, criticando a intervenção do atual Governo. Noutras cidades portuguesas, como Faro e Porto, também aconteceram iniciativas, incluindo ainda o Funchal.

No Funchal pede-se "casas para morar não para especular"

Veja as fotos da concentração junto à Assembleia Legislativa da Madeira

No Porto, cerca de cinco mil pessoas manifestaram-se hoje na Praça da Batalha, Rua de Santa Catarina e Aliados, para reivindicar o direito à habitação, entoando palavras de ordem como "Paz, pão, saúde, habitação".

Perto das 16:00 na Praça da Batalha, junto ao Teatro Nacional de São João e debaixo de um sol brilhante, milhares de pessoas ouviram as palavras de ordem "Paz, pão, saúde, habitação".

Estava dado o pontapé de saída para a manifestação pelo direito à habitação, uma iniciativa organizada pelo movimento Porta a Porta, e que segundo a sua porta-voz, Raquel Ferreira, contou com cerca de cinco mil manifestantes. Em janeiro deste ano, uma manifestação de contornos semelhantes teve cerca de quatro mil manifestantes, segundo dados da PSP.

As palavras de ordem mais gritadas alto e bom som variavam entre "Estabilidade sim, despejos não", "Baixa prestação, subam os salários", "Queremos teto queremos chão", "Porto escuta, o povo está na luta", "Abril exige casa para viver", "Defender com afinco o artigo 65", "Estamos fartos de escolher: pagar a renda ou comer", "Eu não aguento mais viver na casa dos meus pais", ou "Baixem as rendas, prolonguem os contratos".

A arrepiar caminho pela Rua de Santa Catarina e a rua Fernandes Tomás, estavam os Mareantes do rio Douro de Vila Nova de Gaia, que avisavam os turistas de que a luta pelo direito à habitação estava na rua. Os turistas e transeuntes paravam para filmar e fotografar os milhares de manifestantes que entupiram a circulação de várias artérias do coração da cidade do Porto.

Filomena Alves, de 59 anos, a viver no Porto, contou à Lusa que foi despejada e que "se viu e desejou para conseguir arranjar uma nova habitação".

"Os preços são exuberantes. Isto é uma vergonha, cada vez o Governo corta mais", declarou, a gritar e visivelmente consternada com a crise na habitação que o Porto vive e Portugal em geral.

Na manifestação também se puderam ver faixas onde se lia "Construir poder popular - habitação hoje" ou "Sindicato dos trabalhadores em arquitetura pela valorização do nosso trabalho", bem como faixas pelo "Fim da ocupação na Palestina, liberdade e independência".

Esta foi a quarta manifestação pelo direito à habitação que o movimento Porta a Porta organizou no espaço de um ano e meio.

Hoje, pelo menos 22 cidades portuguesas foram palco de manifestações pelo direito à habitação.

Em declarações à Lusa, Raquel Ferreira, porta-voz do núcleo do Porto do movimento Porta a Porta, explicou que a manifestação iria sofrer um atraso de uma hora.

A manifestação no Porto, que estava marcada para começar pelas 15:00, sofreu um atraso de última hora, a pedido da PSP, por causa da "mudança de turnos", disse a representante.

Em Faro foram somente 30

O movimento Porta a Porta mobilizou hoje em Faro cerca de três dezenas de pessoas que se manifestaram pelo direito à habitação, exigindo "uma casa para todos", numa região com muitos problemas no setor.

"Hoje estamos aqui numa luta específica para a habitação [...]. O problema da habitação não é só os preços das casas, tem a ver também com [...] a especulação, tem a ver também com os baixos salários", disse à agência Lusa a porta-voz do movimento Porta a Porta, Ana Tarrafal.

A manifestação na capital algarvia enquadra-se na mobilização que teve lugar hoje em cerca de 22 cidades portuguesas convocadas pela plataforma Casa Para Viver, em defesa do direito à habitação.

Os manifestantes em Faro empunhavam cartazes onde se liam palavras de ordem a exigir "mais habitação pública", "regular e rever as licenças de alojamento", "combater a informalidade do arrendamento" ou "pôr o lucro dos bancos a pagar as prestações" da casa.

"A verdade é que PS efetivamente esteve lá [no Governo] o tempo suficiente para, pelo menos, tentar resolver este problema e não resolveu e acabou por camuflar um bocado o problema, porque não resolveu o cerne da questão, a própria especulação", disse Ana Tarrafal.

Por outro lado, a porta-voz acrescentou que o atual "governo de direita não só não vai resolver o problema como o está a agravar", dando como exemplo "as medidas apresentadas, que têm apenas aumentadas a especulação".

De acordo com Ana Tarrafal, no Algarve a falta de habitações está relacionado com o facto de ser uma região em que o peso do turismo é grande e de a maioria dos trabalhadores ganharem o ordenado mínimo.