Entre o Encanto e a Sustentabilidade…
A Madeira, este pedaço de paraíso no Atlântico, é unanimemente celebrada pelos madeirenses e pelos “estrangeiros” que cá vivem como um lugar que parece ter saído de um sonho. Para quem nos visita, a experiência é única: paisagens exuberantes que se fundem com o oceano, passeios pelas levadas e veredas que desvendam o coração da Laurissilva, um clima ameno o ano inteiro e, claro, a hospitalidade calorosa e a gastronomia. Não surpreende que o turismo se tenha tornado o pilar da economia regional, no entanto, o que à primeira vista parece uma história de sucesso absoluto também traz desafios importantes.
O turismo consolidou-se como a principal atividade económica da Madeira, representando cerca de 25% do Produto Interno Bruto (PIB) regional. O reconhecimento internacional da ilha como um dos melhores destinos turísticos do mundo atrai anualmente muitos visitantes para explorar as nossas paisagens naturais, saborear o icónico vinho Madeira, assistir ao Carnaval e à Festa da Flor e viver as nossas tradições natalícias. No entanto, fica a questão: será que este modelo é sustentável no longo prazo e está a fazer bem à ilha?
A massificação do turismo é uma preocupação crescente. Locais como o Pico do Areeiro, a Ponta de São Lourenço e o Rabaçal enfrentam uma pressão turística constante. O aumento do tráfego nas estradas da ilha e o congestionamento em áreas de grande atração turística são sinais claros dessa pressão. Quem nunca comentou que “já demoro mais de dez minutos da Ponta do Sol à Ribeira Brava” ou que “preciso deixar o carro a dois quilómetros para caminhar nas levadas do Ribeiro Frio”? A natureza, que é o grande tesouro do arquipélago, precisa ser preservada para garantir que a Madeira continue a ser um destino desejado no futuro.
Aqui surge uma questão essencial: estamos a privilegiar a qualidade ou a quantidade no turismo?
O aumento do turismo de cruzeiros traz milhares de visitantes diariamente ao Funchal, mas estas visitas, muitas vezes curtas e superficiais, não deixam um impacto económico significativo. Os turistas desembarcam, tiram fotos, compram algumas lembranças e logo voltam para os navios. Esse tipo de turismo, embora em grande volume, não proporciona uma verdadeira imersão cultural.
Não seria mais vantajoso focar num turismo de maior qualidade, incentivando estadias prolongadas, em vez de se apostar no aumento puro e simples do número de visitantes? Nichos como o ecoturismo, turismo de aventura, enoturismo e o turismo de natureza, que estão a crescer globalmente, oferecem uma oportunidade. Estes segmentos atraem visitantes mais conscientes, que respeitam o meio ambiente e procuram experiências únicas.
Além disso, é importante lembrar que a Madeira é muito mais do que um destino turístico. Setores como a agricultura sustentável, as energias renováveis e a tecnologia também têm potencial para reduzir a dependência do turismo.
Para garantir que o turismo continue a ser uma fonte de prosperidade sem comprometer o futuro da ilha, é crucial adotar um modelo de desenvolvimento sustentável. Isto inclui proteger as áreas naturais e promover práticas turísticas responsáveis. Implementar regulamentos que controlem o número de visitantes em determinadas zonas, como já se faz em outros destinos, para equilibrar a preservação dos recursos naturais com a necessidade de receber turistas.
Embora o turismo na Madeira seja, até agora, uma história de sucesso, o futuro dependerá de decisões cuidadosas. Como assegurar que a ilha continue a ser um destino atrativo sem comprometer a sua essência? O caminho parece ser o turismo sustentável: preservar a natureza que tanto encanta os visitantes e, ao mesmo tempo, promover uma economia diversificada e equilibrada.
A ilha tem todas as condições para continuar a ser um destino de excelência, desde que consiga gerir sabiamente o seu maior património: a própria Madeira com o seu “green” (paisagens, levadas…), com o seu “black” (as nossas praias de calhau e areia preta) e o seu “blue” (clima ameno com o céu limpo muitas vezes no ano e um mar com uma temperatura de água de fazer inveja aos melhores jacúzis do mundo!).
José Augusto de Sousa Martins