DNOTICIAS.PT
Artigos

O Estranho Caso de Miguel Albuquerque

No dia 16 de agosto, terceiro dia em que lavrava o incêndio na Ribeira Brava e em Câmara de Lobos, é notícia pública que o Governo da República tinha disponibilizado envio de reforços de meios de combate aos incêndios, e que essa ajuda foi recusada pelo Governo Regional.

Um incêndio que destruiu mais de 5000 hectares de floresta e terrenos agrícolas, expandindo-se por um perímetro de cerca de 9000 hectares, foi mais um capítulo de uma história com vários anos, onde o Governo Regional do PSD Madeira tem sido não apenas incompetente, mas incapaz de reduzir ou atenuar os riscos de grandes incêndios na nossa Região, e que nos últimos 14 anos consumiu mais de 40.000 hectares do nosso território. É uma tragédia humana e natural que se está a tornar-se rotina, e que o poder reinante tenta normalizar aos olhos da opinião pública, como se não houvesse soluções, como se tratasse de uma inevitabilidade anual. Normalizou-se o facto de todos os anos a população ficar com o coração nas mãos, abandonando a sua casa ou ficando a assistir ao seu terreno arder.

Depois se ter perdido 4 dias em combate inglório, foi enviado finalmente 80 elementos da Força Especial de Bombeiros, para ajudar os operacionais que combatiam com todo o seu esforço e empenho o incêndio imparável.

Nesse dia, o Presidente do Governo Regional decide deslocar-se do Porto Santo para vir dar declarações na Madeira, primeiro para pôr em xeque o seu Secretário Regional, tentando uma espécie de desmentido à recusa da ajuda, e depois para “deitar mais lenha na fogueira” ao acusar que tinha sido fogo posto.

Enquanto a Polícia Judiciária não o desmentiu, neste caso factualmente, Miguel Albuquerque na sua maior tranquilidade, decide regressar, em menos de 24 horas, às suas férias, para a sua espreguiçadeira na praia do Porto Santo. E o incêndio continuava a lavrar sem dó nem piedade, perante o desespero da população em perigo.

Ao sétimo dia dos incêndios, tanto o Secretário Regional como o presidente do Serviço Regional da Proteção Civil, tentavam, à vez, convencer os madeirenses de que não havia necessidade de mais reforços, muito menos de meios aéreos.

Primeiro tínhamos bombeiros mais que suficientes. Depois o Helicóptero estava a atuar com sucesso, pelo que não era necessário mais nenhum meio aéreo. Depois não era possível vir helicópteros a tempo para a Madeira… Depois não era possível abastecer um Canadair, a não ser no mar, mas ninguém queria lançar água salgada sobre as florestas. Não fazia sentido equacionar. Depois…bem, depois esqueçam tudo o que os principais responsáveis pela proteção civil, e pela nossa segurança, disseram sobre os meios de combate e em particular sobre os meios aéreos.

Só no dia 21 de agosto é que foi accionado o Mecanismo Europeu de Proteção Civil, responsabilidade do Governo da República, projetando dois aviões Canadair da força aérea espanhola, e que foram decisivos para o combate e extinção final do incêndio. Não sem antes deixar um rasto negro de destruição, incluindo sobre a nossa milenária Laurissilva.

O PS Madeira propôs uma Comissão de Inquérito na ALRAM para apurar todos os factos. Não ficaremos pelas inquirições às entidades, queremos provas e registos de todas as comunicações e ordens de serviço efetuadas. A Comissão de Inquérito tem os poderes e as competências necessárias para apurar não apenas as responsabilidades políticas, mas também jurídico-criminais.

A culpa não morrerá solteira.