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Qvo vadis?

Em março deste ano, o Ministério titular do Ensino Superior anunciou que o Programa de Promoção do Sucesso e Redução de Abandono reservou, para 2024, um total de 10 milhões de euros. A tutela também revelou que estão previstos mais 20 milhões de euros para reforçar o financiamento deste programa, no quadro do programa Impulso Mais Digital, que conta com o suporte do Plano de Recuperação e Resiliência. Com o novo ano letivo já em curso, e o primeiro mês de aulas prestes a terminar, surge novamente a pergunta: será que, em 2024, a praxe continua a ser uma forma válida de integrar os novos estudantes no ambiente académico?

No passado, a praxe foi utilizada como uma ferramenta de afirmação política e de protesto por parte dos estudantes, servindo de veículo de crítica satírica ao regime vigente. Atualmente, porém, muitos acreditam que essa prática perdeu o sentido e pode estar a perpetuar comportamentos de humilhação e de abuso de poder. Embora existam relatos esporádicos de incidentes por parte de estudantes de anos avançados sobre os mais novos, ou de transgressões às regras da praxe, não creio que a maioria dos participantes — sejam eles “caloiros” ou “doutores” — incentive ou aceite essas práticas como condutas a serem replicadas fora do ambiente da praxe. Tampouco acredito que a praxe seja uma atividade que não promova o bem-estar para a maioria dos estudantes e que não seja divertida para todos os que nela participam, pois seria de esperar que, após tantos anos, essa tradição não mantivesse a sua popularidade se não fosse considerada, por muitos, uma forma eficaz e acessível de integração, permitindo a criação de novas amizades e de laços de cooperação.

Mais preocupante do que as atividades da praxe em si, no meu entender, é o facto de haver estudantes que, por diversas razões, não se conseguem integrar adequadamente no meio académico, o que pode contribuir substancialmente para o abandono ou desistência escolar. Certamente, é imprescindível garantir que não ocorram abusos durante as atividades promovidas nas universidades, mas é inegável que, para muitos, a praxe desempenha um papel importante na sua socialização e no sentimento de pertença à comunidade académica. Nesse sentido, as universidades, bem como as associações académicas e estudantis, têm a responsabilidade, especialmente face aos novos programas financiados pelo governo, de criar alternativas que ofereçam aos estudantes que não se identificam com a praxe, a larga maioria, outras formas de integração, igualmente eficazes, acessíveis e capazes de promover o seu bem-estar e sucesso. Acredito que uma comunicação mais clara e transparente, aliada à promoção da diversidade de atividades de integração, poderia contribuir para desmistificar certos preconceitos e ajudar os estudantes a fazer escolhas mais informadas sobre os métodos de integração que lhes pareçam mais adequados e atrativos.

Creio que, em 2024, a praxe, à luz de vários exemplos próximos a mim, e mesmo não a tendo frequentado, continua a ser uma ferramenta válida que auxilia muitos estudantes, não apenas no início, mas também durante todo o seu percurso académico. Naturalmente, e como se espera da Evolução, é essencial que qualquer processo de integração seja promovido pelas instituições e pelas Associações, garantindo a pluralidade e a abrangência na ação. A vida académica envolve a participação cívica e estudantil, incentivando um espírito de formação de estudantes interventivos e interessados pelo bem-estar da sua comunidade e sociedade.