Chile recusa escolher entre "terrorismo do Hamas e genocídio de Israel"
O Presidente do Chile pediu na terça-feira, na Assembleia Geral da ONU, uma "revolta contra o duplo padrão em matéria de direitos humanos", defendendo que se questione quer o "terrorismo do Hamas", quer a "conduta genocida de Israel".
"Recuso-me a escolher entre o terrorismo do Hamas ou o massacre e o comportamento genocida do Israel de Netanyahu. Não temos de escolher entre barbaridades. Eu escolho a humanidade", frisou Gabriel Boric, durante o seu discurso na 79.ª Assembleia Geral da ONU.
Boric, que é um reconhecido defensor da causa palestiniana e que na véspera se reuniu com o presidente palestiniano Mahmoud Abbas, apelou ainda a um cessar-fogo em Gaza, à libertação imediata dos israelitas raptados pelo Hamas e ao progresso na solução dos dois Estados.
As tensões na região do Médio Oriente aumentaram após o ataque de 07 de outubro de 2023 do movimento islamita palestiniano Hamas em território israelita, que fez 1.205 mortos, na maioria civis, e 251 reféns, e em retaliação ao qual o Exército israelita iniciou uma guerra contra o Hamas na Faixa de Gaza que já fez pelo menos 41.467 mortos e 95.900 feridos, além de mais de 10.000 desaparecidos, segundo números do Ministério da Saúde local, que a ONU considera fidedignos.
No seu terceiro discurso perante a Assembleia Geral das Nações Unidas, o Presidente chileno denunciou ainda a "flagrante transgressão do direito internacional" representada pela invasão da Ucrânia pela Rússia e criticou tanto as sanções dos Estados Unidos quer contra a Venezuela, quer contra o Governo chavista, que classificou como "ditadura".
"Como jovem presidente latino-americano e de esquerda, digo alto e bom som que os direitos humanos devem ser respeitados sempre e em qualquer lugar e exigir esse respeito independentemente da cor política do ditador ou do presidente no poder que o viola", acrescentou.
Boric reconheceu ainda a sua preocupação com a perda de confiança dos cidadãos na democracia e "o surgimento de líderes autoritários que perseguem ou insultam aqueles que discordam".
Tal como outros líderes mundiais, o líder chileno apelou à reforma do sistema das Nações Unidas porque, disse, "o mundo de 2024 não é o mundo de 1945" e "as instituições que não se adaptam aos seus tempos correm o risco de entrar em colapso".
"Proponho que estabeleçamos um prazo para a reforma e para que, quando a ONU fizer 80 anos, o faça com um Conselho de Segurança de acordo com o rumo dos tempos atuais, do qual o Brasil faça parte pela América Latina, a Índia e pelo menos um país de África. Não há nada que o impeça, exceto as nossas próprias vontades", sublinhou ainda.