Ajuste de Contas

Um dia erguer-se-ão os maltratados,
Os pobres, os infelizes, os escravos,
Vociferando, olhos esbugalhados,
Braços erguidos, acusando agravos.

Virão fulos dos quatro pontos cardeais,
Crendo vislumbrar mensagem sublimada,
Ou obedecendo a estranhos sinais,
Qual multidão zombie, cega, assanhada.

Os falsos crentes de mãos postas rezarão,
Pensando ser uma punição divina,
E as igrejas e templos invadirão
Jurando que a fé não era repentina.

Os ricos avarentos, os vis corruptos,
Os patrões desonestos, os agiotas,
Os bandidos, os vilões, os dissolutos
Tentarão fugir às devidas respostas.

Procurarão alcançar a absolvição,
Uns brandindo a bolsa bem recheada,
Outros recorrendo a violenta acção.
Todos com medo, mas culpados de nada!

Porém, a justa fúria dos lesados,
Será imparável, lesta, implacável,
A todos punirá, civis e prelados,
Justiceira e medonha, indomável.

Asdrúbal Vieira