Lições do Relatório Draghi para a Madeira
O relatório Draghi recentemente publicado aborda temas fundamentais para o futuro da economia europeia, especialmente no que toca ao fortalecimento da União Europeia e da sua coesão económica e social. Mario Draghi, antigo presidente do Banco Central Europeu, destaca no seu relatório a urgência de promover a competitividade para que a Europa não perca mais terreno para os Estados Unidos ou a China, e torná-la mais resiliente para suportar crises como as que recentemente nos assolaram, da pandemia ou a guerra na Ucrânia.
Mas o que é que isto significa para a Madeira? Desde logo, Draghi defende um investimento anual de 800 mil milhões de euros na UE, “bazuca” que revitalizaria uma economia europeia com maior foco no consumo interno, com políticas fiscais e económicas mais favoráveis entre os Estados-Membros e menor dependência de países terceiros em áreas estratégicas como a tecnologia, energia ou transportes e um mercado único mais integrado e eficiente, com menos barreiras ao comércio.
Pode não parecer, mas isto é uma oportunidade para regiões como a Madeira. Devido à sua especificidade, a Madeira será sempre beneficiária das políticas de coesão e de instrumentos financeiros para desenvolvimento regional. Uma região que pode apostar em áreas como a tecnologia, o digital, o mar, sem descurar o turismo, tem a capacidade de diversificar a sua economia, fortalecer o seu tecido empresarial e criar melhores condições de trabalho - mais qualificado e mais bem pago. Algo que sempre defendi, reduzir a dependência do turismo e da construção, e ser capaz de qualificar e reter a mão-de-obra qualificada, é crucial para o futuro da Madeira.
Outro ponto relevante do relatório assenta na transição verde e digital. A sustentabilidade é um pilar fundamental da UE. Draghi reconhece que os transportes são responsáveis por uma parte significativa das emissões de carbono da Europa. Como tal, propõe medidas que acelerem a eletrificação dos transportes, a expansão de infraestruturas de carregamento e o investimento em fontes alternativas, como o hidrogénio. Na Região, isso significaria não adquirir 127 autocarros novos, dos quais apenas 9 são elétricos, como já aconteceu este ano, mas também de ser capaz de atingir os objetivos a que se propõe. Recordo que, em 2020, foi prometida a meta da produção de 50% de energias renováveis na Região, meta que não foi atingida, sendo que dois anos depois esse objetivo já era menos ambicioso, mas nem os 40% preconizados foram alcançados. Em 2023, este valor ficou-se pelos 27,8%, tendo sido empurrado o objetivo dos 50% para 2025. Números que são preocupantes, ainda para mais quando a UE disponibiliza fundos significativos para acelerar esta transição.
As soluções para esta transição devem ser acompanhadas de uma digitalização acelerada dos processos, otimizando as operações e coordenando melhor as redes de fornecimento. O foco na inovação não é novo, mas depende de uma implementação eficaz de políticas que incentivem a modernização das nossas infraestruturas, e é imperativo começar a pensar nelas o quanto antes.
Não é tarefa fácil. A implementação destas políticas exigirá um esforço conjunto entre governos, regional e nacional, em colaboração com as instâncias europeias. Só desta forma poderemos assegurar que a Madeira não só se adapta às alterações climáticas e às exigências económicas desta Europa preconizada por Mario Draghi, mas que prospera num futuro que se prevê competitivo e desafiante. Concordando ou não com a exequibilidade deste relatório, algo é indiscutível: as economias não são estáticas, mudam, adaptam-se e evoluem. Quem ficar parado, fica para trás.