Antigo carteiro nega colaboração com rede de droga com carros de luxo
Prosseguiu, esta manhã, no tribunal do Funchal (Palácio da Justiça), o julgamento de 25 arguidos (21 cidadãos e quatro empresas de venda de automóveis) que são acusados de formarem uma complexa rede que se dedicava à importação de estupefacientes para venda na Madeira. A sessão de hoje foi preenchida com as declarações de um arguido de 62 anos, antigo funcionário dos CTT, que alegadamente terá colaborado com o grupo na monitorização de encomendas com droga.
O colectivo de juízas, presidido por Joana Dias, confrontou o carteiro (só deixou os CTT, por aposentação antecipada, já após as detenções neste processo) com o conteúdo de escutas telefónicas que o envolvem em contactos mantidos em Março e Abril de 2022 com um primo, também arguido neste caso, no sentido do apuramento do paradeiro de uma encomenda remetida da Bélgica com droga, a qual fora apreendida pela PJ, sendo que tal facto não era do conhecimento de ambos.
Ora o antigo funcionário do CTT assumiu que o primo efectivamente o contactou para saber da situação de duas encomendas. Apesar de se encontrar de baixa médica, contactou os seus colegas que se encontravam ao serviço e apurou que uma primeira encomenda tinha sido retirada do circuito de distribuição, sendo que à mesma tinha sido associado um código que normalmente atribuído às encomendas que são alvo de verificação pela PJ.
Apesar de ter tomado esta diligência, o arguido negou que soubesse que o conteúdo do pacote era droga. Assumiu que ficou algo desconfiado, mas que o primo garantiu-lhe que a encomenda trazia “produtos de ginásio”. O ex-carteiro negou qualquer ligação ao mundo do tráfico de drogas. “Eu nunca faria uma coisa dessas só por ver o sofrimento que alguns familiares passaram devido à droga”, declarou, tendo admitido que pediu emprestados 1.500 euros a um dos arguidos para pagar a um advogado devido a um litígio laboral. Segundo explicou, esse arguido “tinha-lhe saído 50 mil euros naquela coisa [das apostas] do futebol”.
Ao final da manhã foi ouvida uma arguida que admitiu ter acordado com outra acusada que iria receber uma encomenda e em contrapartida embolsaria 1.000 euros. “Só combinei receber a encomenda e entregar a ela. Não sei porquê, não recebi. Desconfiava na altura que era droga, mas não sabia o que era”, afirmou.
Os dois arguidos que aceitaram falar esta manhã fizeram-no sem a presença dos restantes acusados na sala de audiências.
O julgamento prossegue esta tarde, pelas 14h30.
Recorde-se que este processo resulta de uma longa investigação da Polícia Judiciária e da PSP, que envolveu diversas apreensões de droga, realizadas entre Outubro de 2020 e Maio de 2023. O suposto cabecilha, um homem de 40 anos, é acusado de ‘lavar' uma fortuna oriunda do tráfico de 'bloom' em stands de venda de carros de luxo, beneficiando da colaboração das empresas.