Um Portal de transparência num setor opaco
Talvez pela carga emocional que os portugueses sentem ao ver e falar de futebol, não é comum pensarmos neste desporto como um setor económico muito relevante para o país.
Sendo o entretenimento principal dos portugueses, e após anos de sucessos coletivos e individuais, houve um acumular de recursos e know how no setor.
Existe hoje uma panóplia de clubes com diversos escalões, atletas e técnicos de masculinos e femininos, suportados pelos sócios, apoios públicos e investimento privado.
Apesar de muitos clubes terem já uma dimensão muito relevante, serem grandes empregadores e fortes dinamizadores económicos, é um setor que peca nas suas políticas de transparência e governança, existindo uma percepção global de que é um setor de negociatas pouco explicadas e suspeitas permanentes de que alguns dirigentes não zelam pelos melhores interesses dos sócios.
O desenvolvimento sustentável e continuado deste setor passará por estabelecer sólidas e transparentes regras de relacionamento entre as partes, diminuir o gap de informação entre clube e sócios e estabelecer benchmarks sobre o que são os custos padrão associados a uma transferência de jogadores.
Foi dado um passo importante por um dos três grandes clubes nacionais com o lançamento do Portal da Transparência, onde publicará informação ao público sobre diversas matérias financeiras e institucionais do clube.
O tempo dirá o quão eficaz será a medida, bem como a frequência e espetro de informação a prestar aos associados mas parece ser um bom passo para oferecer alguma transparência ao negócio do futebol.
Numa realidade em que muitos clubes não disponibilizam as contas fora do contexto de Assembleia Geral, poderá contribuir para a sustentabilidade a longo prazo do futebol português.
À semelhança dos restantes setores económicos, a pressão colocada nos clubes será cada vez maior para que publiquem toda a informação relevante, sendo inclusive expectável que venha a ser uma parte muito relevante na captação de financiamento externo, bem como no estabelecimento de parcerias duradouras.
Uma melhoria dos critérios e práticas do setor nos temas de governança também teria valiosos contributos para mitigar os riscos apresentados por processos de criação de SAD – e resultante desconexão entre clube e a atividade futebolística profissional – que têm trazidos dissabores aos adeptos de diversos clubes históricos nacionais.