Risco de propagação de incêndios acentua-se em zona de vales encaixados
Conclusão consta no Relatório de Análise de Perigosidade de Incêndio Rural em Santa Cruz no âmbito da revisão do Plano Municipal de Emergência de Protecção Civil daquele concelho
Os vales muito encaixados que caracterizam a orografia da Madeira – partindo do caso concreto do Município de Santa Cruz – acentuam muito o risco de propagação em situações de incêndios, reconhece Artur Costa, professor universitário da Lusófona responsável pela revisão do Plano Municipal de Emergência de Protecção Civil de Santa Cruz e do Relatório de Análise de Perigosidade de Incêndio Rural no Concelho.
Pela primeira vez com trabalho feito na Região, destacou as particularidades da ilha que não se encontram no continente, referindo-se aos “declives acentuados, zonas de vales muito encaixados, muito fechados, onde o perigo de incêndio, ou melhor, o perigo da propagação do incêndio se acentua muito”, destacou, à margem da apresentação pública da proposta.
Estudo que produziu como “um extra” o Relatório de Análise de Perigosidade de Incêndio Rural no Concelho, que em boa hora foi desenvolvido tendo em conta os incêndios ocorridos recentemente.
Esclareceu que o estudo “conduz à avaliação de risco, de perigosidade” do território do município de Santa Cruz. “Acentuou a existência de risco mais elevado em determinadas regiões, portanto conduziu a um estudo da distribuição espacial do risco no território. Esse estudo poderá funcionar a prazo, ou no mais imediato a seguir, como fundamento para, então, desenvolver políticas públicas que mitiguem esse risco e que, portanto, assegurem que não se dão os acontecimentos trágicos, e que infelizmente vamos assistindo”, apontou.
“Prevenir, prevenir, prevenir, educar, educar, educar” é na opinião de Artur Costa o caminho a seguir para minimizar riscos.
No âmbito da prevenção apontou várias dimensões a começar pelo estado em que as florestas se encontram, de uma forma geral, abandonadas, até a fiscalização. Igualmente relevante é a educação dos comportamentos de risco.
Em suma “o relatório faz um estudo sobre o nível de perigosidade quanto a incêndios rurais para o município”, que através de cartografia aponta para um conjunto de bons princípios que devem ser aplicados, assim como, acautelados meios e recursos de resposta no combate a fogos.
O docente universitário entende que este estudo feito no Município de Santa Cruz “não pode replicar-se a outros territórios, porque o estudo é relativo à perigosidade deste território.
Agora, o estudo pode ser replicado nesses outros territórios, com as conclusões correspondentes a esse tipo de territórios”, embora admita que “o tipo de problemas existentes não é neste município muito diferente a outros”, dadas as características da Região no seu todo.
Para este ‘expert’ “a zona que comporta mais risco, é exactamente a zona intermédia, que não é urbana, mas também não é completamente florestal” o chamado “interface urbana ou florestal, que pode ter um nível de risco de incêndio mais baixo, mas os efeitos podem ser mais graves na ocorrência do incêndio”, adverte. “Contudo, os maiores, os mais elevados riscos de incêndio encontram-se em regiões que também têm muito a ver com a parte alta e que não têm o mesmo nível de ocupação, não têm tanta mistura entre habitação e floresta”, complementou.
Artur Costa é o responsável do Civil Protection and Risk Analysis Group da Universidade de Lusófona, tenho dedicado os últimos 20 anos ao serviço da causa da protecção civil, promovendo, sobretudo actuando através da ciência, com conhecimento e com cultura através de cursos de formação, de graus académicos.