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0 único contacto físico entre pai Jaime Pita e filho Dirio Ramos

Jaime parte de Lisboa para o Funchal para a derradeira despedida de seu pai biológico – o seu

Jaime. No emprego toda a gente fica a questionar-se “O pai dele morreu? - Vai Jaime comprar o bilhete e toca embarcar. No dia anterior, dia da notícia da morte do seu pai, assina com a sua mulher o primeiro acordo para a separação do casal existente há 32 anos.

Jaime estava emocionado, lê os poemas sobre os nascimentos e sobre o Seu Povo de Pablo Neruda, o Adeus de Miguel Torga e o tempo em que se morre de Eugénio de Andrade. Fica entusiasmado com os poemas, fotocópias e leva-os para entregar a Silvério. Sabe que vai ser reconfortante para si e para Silvério lerem os poemas juntos.

O primo Jorge, sempre solidário, falta de manhã ao seu emprego e acompanha Jaime ao Cemitério. É a dúvida instalada. Como reagir emocionalmente na igreja? Quem lá estará? Quem será que está junto do caixão?

Silvério levanta-se, vai ao seu irmão, dá-lhe um grande abraço e mostra o corpo do pai. Alguns interrogam-se: “Quem é aquele?” Graça mais tarde confessou que deveria ser um chefe do Silvério, tal a manifestação de solidariedade.

Ao ouvido de Silvério pergunta em segredo se pode ir cumprimentar as irmãs e a mãe. Responde Que sim. Primeiro dá três beijos a Gracinha e passa-lhe a mão pelo rosto. Depois beija Bernardete. Fala novamente com Silvério e volta mais tarde para assistir à missa. Graça tinha, ao passar pelo seu novo mano disse em voz baixa: “Quero falar contigo” e diz o número do seu telefone.

Jorge insiste que se dê uma volta até São Vicente. Era preciso conhecer os túneis e descomprimir. Fala-se das vantagens das redes viárias e dos problemas da política. O Alberto João está quase a cair. Nas últimas eleições já começou a perder. Volta-se para o restaurante e petisca-se o macarrão com massa, batatas, carne de porco e carne de vaca. Já não comíamos este prato há mais de trinta anos. O atum de escabeche, os filetes de espada e o vinho jaqué. Quando se chega a São Martinho, Nélio substitui Jorge na companhia de Jaime.

Entra-se na igreja, que entretanto encheu e Jaime senta-se, mas aparece Cecília que dá-lhe a mão e diz:-lhe “Senta-te aqui ao pé da outra prima. Depois apresento-vos. - A sempre presente Ariete, filha do tio Adriano.- irmão de Jaime Pita

Na missa – O Silvério beija o Jaime Pai, como filho legitimo e varão ,Dirio assiste, nervoso- Cecília Catarino dá o sinal para Jaime (Dirio) se despedir do pai logo a seguir a Silvério

- A sempre presente Graça Os cuidados dos problemas formais do funeral - Cecília, Jaime, Ariete a grande cumplicidade. - “Quem será aquele”, alguns murmuravam, outros levantavam-se, talvez seja o tal, o outro o filho clandestino do sargento.

A guarda de honra militar. O relembrar dos companheiros mortos no Sagal, o Frei Paulo a dar a bênção nos Cemitérios Católicos e Muçulmanos em Mocímboa da Praia, Moçambique.

As despedidas. As condolências. É preciso aguentar estoicamente. Silvério dá alguns sinais a amigos de seu pai que vêm cumprimentar Jaime (Dirio)com o sorriso de simpatia, voltam a despedir-se, e mais este, ou aquele, Na igreja, Graça diz em voz baixa que precisa falar com Jaime, dá-lhe o número do telemóvel que não deu tempo para fixar., Amelia finge não conhecer o irmão

E vêm mais dois primos, filhos do tio Adriano – cumprimentos, abraços, sorrisos de cumplicidade, de ver e rever – de ler os olhos nos olhos, os olhos que servem para ler o pensamento. Assim se revê e imagina a história. Silvério tinha referido que Jaime tinha um andar semelhante ao tio Adriano e referiu que quem sai aos seus não degenera. Afinal havemos de falar de outros próximos de outras vidas. Nélio , primo de Jaime, o filho de Belinha, foi ao cemitério e sempre disponível para acompanhar nestes tempos difíceis.

Altera-se a boleia. Afinal quem estava com Jaime e a mulher. Pretende chorar e desabafar. Aparece a comadre de Silvério e seus pais. A senhora, referindo-se a Jaime, afirma: “Está cada vez mais parecido com sua mãe.”. Falamos do Amparo, dos Piornais, dos Barbosas, da Conceição, a parteira. “O senhor fala como sua mãe”. São revistos os becos, as famílias e aqueles que partiram, citam-se alguns poemas. O marido e o filho assistem abrindo a boca ao diálogo de Jaime com a senhora…, a mãe de…, comadre de Silvério, uma mulher bonita de 37 anos e já viúva.

Ao fim da tarde, Silvério deixa o seu mano na Praça da Autonomia, até mesmo, bem próximo onde Jaime trabalhava como eletricista e mais tarde como Engenheiro. Apanha boleia de Jorge e vai para casa. Um jantar de arroz de lapas acompanhado de polvo de vinagrete e vinho puro da propriedade de Silvério.

A descompressão é total. Jorge diz que “hoje saiu-te uma tonelada de cima dos teus ombros”. Sim tudo tinha corrido bem. Esta uma verdadeira história de amor que muito doí