…e novamente os incêndios
A verdade é que parece que não evoluímos em nada e que só nos lembramos disto quando acontece alguma catástrofe
Há gente que adora assistir ao “espetáculo de luz e cor” que queima tudo por onde passa inclusive o ar que se respira. Mais gente que se possa pensar. Os pirómanos são um fenómeno assustador que nos coloca sucessivamente em alerta e por consequência em perigo. A nós, aos nossos bens pessoais e ao bem comum, ao que é de todos. Não serei eu a pessoa indicada para explicar que tipo de transtornos psicológicos ou marcas que carregam para sentir esse profundo mau gosto de colocar os outros em perigo e de apreciar o calor das chamas e tudo o que elas causam. A verdade é que eles existem e compete-nos a nós todos enquanto sociedade onde incluo o Estado, as entidades privadas e as pessoas particulares combater esse flagelo usando mecanismos que diminuam substancialmente a possibilidade de recorrência destes eventos que parecem persistir, ano após ano, tirando vidas, usando e abusando do espirito altruísta dos bombeiros e restantes forças de defesa.
Para além desses seres abjectos que adoram provocar e assistir a um incêndio, vá-se lá perceber porquê, existem outros que o fazem por interesse. Que ganham dinheiro com a política de terra queimada, seja porque os negócios não correm bem e querem salvar o possível acionando seguros ou porque negoceiam essa mesma madeira que desta forma sai mais barata e há ainda os que o fazem para prejudicar alguém. Se os incêndios não são um fenómeno exclusivo de Portugal (existem grandes pelo Mundo inteiro), importa perceber de que forma se podem estes prevenir a começar por ter mão cada vez mais pesada para punir quem os ateia, seja por que razão for. Esta gente que não merece o nosso respeito, precisa de sentir na pele aquilo que fazem aos outros. Mas só isso, evidentemente não chega e também não é atirando dinheiro para cima da mesa e acreditando que com mais meios se combate o problema se esses mesmos meios, pura e simplesmente não conseguem atuar em diversas circunstâncias.
É precisamente por aí que devemos abordar o tema, deixando pouca margem aos psicopatas e cortando-lhes o caminho livre que hoje têm. A começar por um tema que de tão falado já cansa mas que enquanto não for resolvido, não existirá solução à vista. Falo da limpeza da mata e da floresta. Se estes não forem limpos quando e como a lei determina baixando-lhes a densidade e criando zonas e caminhos de segurança, que permitam aos bombeiros fazer o seu trabalho, chegará todos os anos por esta altura, momentos em que pouco haverá a fazer quando o mal já está feito. Se o maior proprietário é o Estado e se é ele quem manda deveria ser o mesmo a começar por dar o exemplo. O que não se verifica. Depois também os privados que não fazem o que é da sua responsabilidade e por fim a lei que não atua sobre quem não cumpre. Para além de tudo isto existe uma estratégia de fiscalização e de monitorização do terreno que aparentemente não funciona ou funciona de forma deficiente. Ano após ano é sempre a mesma aflição e algum ano terá que se meter mão nisto.
É curioso de ver que onde existem certas industrias os fogos têm maior dificuldade em aparecer. É o caso da Navigator que controla e fiscaliza permanentemente os terrenos sobre sua jurisdição. Não estando aqui a defender o papel, o abate das arvores, nem a empresa em causa (isso fica para outras núpcias) se calhar devíamos aprender alguma coisa sobre o assunto. A verdade é que parece que não evoluímos em nada e que só nos lembramos disto quando acontece alguma catástrofe. Não é possível continuarmos a assistir impávidos e serenos a mais mortes, casas desfeitas e florestas derretidas.
Não posso terminar sem enviar um abraço sentido às famílias que perderam os seus entes queridos em mais uma tragédia, bem como para as comunidades onde estavam inseridos. Um obrigado aos bravos bombeiros e a todos os que tentam num combate desigual lutar contra este flagelo.