O Valor da Mediocridade

Hoje falo-vos de… mediocridade.

Nos dias que correm, onde os destinos se cruzam e as ambições se desenrolam, há uma sombra que paira com um peso desconcertante: a mediocridade.

Mas o que é a mediocridade senão uma ilusão que, de forma paradoxal, recebe mais aplausos do que o verdadeiro mérito?

A mediocridade destaca-se, não pela sua própria luz, mas pela sua capacidade de eclipsar os verdadeiros talentos. Numa sociedade ideal, o esforço e a dedicação seriam pilares de ascensão social, recompensando aqueles que verdadeiramente se

destacam pelo seu trabalho árduo e competência. Contudo, a realidade que frequentemente observamos é uma inversão perturbadora desta lógica. A vitória nem sempre pertence àqueles que são competentes e dedicados, mas sim àqueles que sabem como se promover, mesmo que as suas conquistas sejam apenas medianas.

Aqui na nossa “pérola do Atlântico”, vemos exemplos claros dessa tendência.

Pessoas cujas contribuições são questionáveis muitas vezes atraem uma atenção desproporcional, graças a uma habilidade notável para se promoverem e criarem um espetáculo ao seu redor. A qualidade real e a profundidade das suas realizações são, frequentemente ignoradas, em favor de um brilho efémero e de uma acessibilidade superficial. Profissionais competentes são frequentemente ofuscados por colegas menos qualificados que têm o talento para se posicionarem estrategicamente e se promoverem de maneira eficaz. Em vez de recompensar competência e desempenho, o sistema premeia, muitas vezes, a capacidade de se venderem e se destacarem, ou seja, aqueles que fazem menos, mas sabem como se fazer notar.

O mesmo padrão se reflete na educação e no desenvolvimento pessoal, onde a conformidade e a capacidade de seguir regras são muitas vezes mais valorizadas do que a inovação e a criatividade. Estudantes e profissionais são frequentemente avaliados pela sua capacidade de repetir fórmulas estabelecidas, em vez de desafiar o “status quo” e procurar novas soluções. A necessidade de “jogar o jogo” e de se adaptar às expectativas, resulta, muitas vezes, numa cultura onde o verdadeiro brilho é ofuscado pela necessidade de se conformarem e se promoverem.

Mas como acredito que devemos ser resilientes, é crucial lembrar que mérito e excelência não são apenas conceitos utópicos. Existem indivíduos e grupos que, apesar das dificuldades e dos obstáculos, continuam a lutar pelo verdadeiro valor das suas realizações. Estas pessoas, mesmo sem o reconhecimento imediato, estão a moldar o futuro com as suas contribuições significativas e duradouras.

Reconhecer e valorizar o verdadeiro mérito, em vez de se render à celebração da mediocridade, exige uma mudança de mentalidade. Precisamos ser críticos das narrativas dominantes e procurar a autenticidade e a profundidade na nossa avaliação de sucesso e realização. Precisamos de construir uma sociedade que verdadeiramente honra e recompensa o esforço e a excelência, em vez de se contentar com o brilho passageiro da mediocridade.

Como Oscar Wilde tão sabiamente colocou: “A cada bela impressão que causamos, conquistamos um inimigo. Para ser popular é indispensável ser medíocre.”

P.S.: Caro leitor, se se revê nesta reflexão ou conhece alguém que já sentiu o mesmo, não se preocupe (ironia) é apenas uma coincidência (ou ironia novamente)! Será?!

José Augusto de Sousa Martins