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Mounjaro vai resolver escassez de Ozempic para diabéticos?

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Foto Shutterstock

Muitos poderão estar familiarizados com o nome Ozempic comercializado pela Nova Nordisk em Portugal desde Maio de 2021, um ano depois dado como escasso no mercado. Em Outubro de 2022 começaram a ser reportados em vários países, incluindo cá, o problema de abastecimento às farmácias, com queixas de dificuldades no acesso por parte de doentes com diabetes insuficientemente controlada, para quem o medicamento está indicado. A razão é que o princípio activo, o semaglutido é eficaz na perda de peso e tem sido prescrito com uma indicação diferente da aprovada na autorização de introdução no mercado (off-label), levando a um aumento da procura, sobretudo após vídeos nas redes sociais e testemunhos de famosos darem conta da eficácia no emagrecimento.

O medicamento, que integra os agonistas dos receptores do peptídeo-1 semelhante ao glucagon (GLP-1), mimetiza esta hormona, tem indicação formal para tratamento na diabetes da pessoa obesa, com índice de massa corporal igual ou superior a 35 kg/m2 porque retarda o esvaziamento do estômago, promove perda de peso diminuindo o apetite. Actua a nível central, explica o médico Silvestre Abreu. “O problema é que depois começou a ser usado - e do ponto de vista científico é correcto - nas pessoas sem diabetes, mas com peso a mais”. Segundo o médico “ocasionalmente aparece uma embalagem ou outra, mas o laboratório diz que não tem capacidade de produção”. Além disso, lamenta, “não há alternativa”. Segundo Silvestre Abreu, os dois medicamentos semelhantes, o Bydureon (exenatido) e o Victoza (liraglutido) só aparecem esporadicamente, e o Trulicity (dulaglutido) saíu do mercado.

Em Portugal, sem comparticipação o Ozempic apresenta-se em canetas injectáveis, custa cerca de 120 euros, dá para sensivelmente um mês. Com a comparticipação o utente paga menos de 11 euros. “É uma pescadinha de rabo na boca. Não há medicamento e a procura aumenta. Como aumenta vai diminuindo a disponibilidade”, diz ainda o médico.

A protecção da patente do semaglutido garante à Nova Nordisk durante algum tempo a exclusividade do Ozempic contra genéricos. Na Índia, China e Brasil deverá chegar ao fim em 2026 e segundo a Reuters já há mais de uma dezena de versões na fase final de testes clínicos.

Recentemente foi noticiada a negociação para a redução do preço da venda do Ozempic nos Estados Unidos, o que também deverá levar ao aumento da procura naquele país.

Na Madeira as embalagens chegam às farmácias às três e quatro por semana e há lista de espera, confirma o representante regional da Associação Nacional de Farmácias (ANF). O medicamento está rateado, uma situação que o Infarmed - Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde já assumiu que se vai manter também em 2025. “A procura talvez exagerada pelo Ozempic é porque ele está a ser aconselhado para uma terapêutica à qual ele não se destinava. Está a ser utilizado maioritariamente para esse fim”, revelou Carlos Delgado.

Com expectativa é aguardada a introdução do novo Mounjaro. “Já está aprovado pelo Infarmed, uma vez começando a comercialização em Portugal, acredito que num par de dias acabe esta febre do Ozempic”.

Por agora não há data oficial para início de comercialização em Portugal. “Já se falou do final do ano, já se fala do princípio do próximo. Não é certo ainda”, disse o representante da ANF, apontando para o primeiro trimestre de 2025.

O Mounjaro, que tem como princípio activo a tirzepatida, vai reforçar a oferta de tratamento dos diabéticos. Deverá também promover uma nova corrida, uma vez que tem melhor desempenho, de acordo com os estudos. “A tirzepatida possui um mecanismo de acção dual, actuando não só como um agonista dos receptores do GLP-1, mas também dos polipeptídios insulinotrópicos dependentes de glicose (também chamado de polipeptídio inibitório gástrico [GIP])”, explica o médico Pedro Pinheiro num artigo publicado no sítio MD.Saúde. “Essa dupla acção é responsável por um desempenho superior da tirzepatida nos estudos clínicos”.

Já em comercialização em diversos países, a tirzepatida do Mounjaro pertence à mesma categoria do semaglutido do Ozempic e é um dos medicamentos mais populares para a obesidade e a diabetes tipo 2 e pertence à mesma categoria do semaglutido.

A Agência Europeia do Medicamento autorizou a introdução no mercado do Ozempic em 2018, chegou ao mercado português em 2021. No caso do Mounjaro, o medicamento foi autorizado em 2022. Desenvolvido pela norte-americana Eli Lilly, este medicamento tem estudos que provam que em alguns casos as perdas de peso são superiores a 20% em relação ao peso inicial. Recentemente um outro estudo com a tirzepatida divulgado por este laboratório revelaram que reduziu em 38% o risco de hospitalização ou morte em adultos obesos com insuficiência cardíaca, em comparação com um placebo.

No caso do Ozempic, o laboratório dinamarquês Nova Nordisk lançou com a mesma substância semaglutido o Wegovy para obesidade, mas este medicamento não está disponível em Portugal. A Eli Lilly tem o Mounjaro para tratamento da diabetes tipo 2 e lançou também o Zepbound, com o mesmo princípio activo, com indicação para tratamento da obesidade, que como o Wegovy não está disponível em Portugal.

Face à possível redução do preço do Ozempic nos Estados Unidos e provável aumento da procura, à lista de espera para este medicamento em Portugal, à entrada do novo fármaco mais eficaz, mas provavelmente mais caro, é impreciso que o Mounjaro resolva a escassez do Ozempic para os diabéticos que dele necessitam.

Mounjaro vai resolver escassez de Ozempic para diabéticos?