Conforme noticia o DIÁRIO, na sua edição impressa de hoje, na próxima quarta-feira, 4 de Setembro, o Museu de Imprensa da Madeira, em Câmara de Lobos, irá acolher um leilão de obras de arte muito especial.
Trata-se do culminar do projecto ‘Um Novo Florescer do Amor’, desenvolvido pela Associação para Pessoas com Autismo ‘Os Grandes Azuis’, a convite do artista plástico brasileiro Leandro Figueiredo e em parceria com o engenheiro Aurélio Tavares, proprietário da Galeria Lourdes.
“Eu estava numa formação e alguém com quem o senhor engenheiro tinha falado, veio perguntar-me se eu estaria interessada em participar neste projecto, porque o artista queria autistas no projecto dele. Na mesma hora, disse que sim. São projectos que eu acho que podemos abraçar e a arte também é uma forma de comunicar”, revela Ana Luísa Caires, presidente da Associação, que em entrevista ao nosso matutino dá conta das dificuldades sentidas pelas pessoas autistas, nomeadamente a falta de apoios após os 18 anos.
Aposentação de três médicos deixa Gastrenterologia em asfixia na Madeira
O Serviço de Gastrenterologia do SESARAM, que já é insuficiente para dar resposta às solicitações, tem apenas nove especialistas, mas três vão sair até Janeiro por motivo de aposentação. Cerca de 80% dos doentes em internamento apresentam consumos excessivos de álcool. O tema faz a manchete da edição desta segunda-feira do DIÁRIO.
Este primeiro contacto aconteceu em Novembro de 2023, tendo-se sucedido outro, já em Maio deste ano. Mas esta história começa muito antes, com Leandro Figueiredo ainda no Brasil.
“Eu estava no meu ateliê, saí à porta e tinha uma criança olhando os meus trabalhos. A mãe estava com ela e quando eu me aproximei ela perguntou: ‘São seus os desenhos?’ Eu respondi que sim e ela disse que a filha adorava os meus desenhos. Quis saber o nome da criança e se podia falar com ela. A mãe disse que era Alice, mas avisou que ela tinha autismo. Aí eu baixei-me e comecei a conversar e a brincar com menina. A Alice não me olhava, porque – e aprendi isso com o tempo – os autistas só olham nos olhos de quem confiam (…). Então, eu disse: ‘Alice, você gostou dos meus desenhos? Agora eu quero ver os seus desenhos’. E ela olhou para mim. Esse foi o primeiro impacto que eu tive”, relata o artista.
A Alice tornou-se visita frequente do ateliê, levando semanalmente os seus desenhos para que o artista os visse. Foi nessa mesma altura que Aurélio Tavares o contactou, desafiando-o a realizar um projecto com crianças autistas. “Eu falei ‘maravilhoso’. Então, cá estou eu nesse projecto”, diz em conversa com o DIÁRIO.
Sempre gostei de trabalhar com crianças. Sinto-me sinto muito bem com elas Leandro Figueiredo
Os trabalhos que compõem a exposição itinerante — que já passou pelo Centro Cultural e de Congressos do Porto Santo e pelo Colégio dos Jesuítas, no Funchal — foram desenvolvidos, ao longo dos meses de Junho e Julho, por seis jovens artistas, entre os quais utentes da Associação ‘Os Grandes Azuis’, em conjunto com o próprio Leandro.
“Foram dois meses de trabalho, numa dinâmica que envolveu seis jovens. Foi espectacular. Saímos desse projecto com 19 obras”, refere o artista.
Veja as fotos dos ‘bastidores’ deste projecto:
São obras de arte e são obras lindas. Todos estes jovens surpreenderam-me Leandro Figueiredo
‘Um Novo Florescer do Amor’ encerra agora com o leilão do próximo dia 4. A intenção é, através da comercialização das obras produzidas, gerar receita que reverterá para ‘Os Grandes Azuis’.
“Na verdade temos dois grandes objectivos desse projecto. Primeiro, a inclusão dos jovens [autistas] através dos jovens e, segundo, angariar fundos para ajudar [a Associação]”, aponta Leandro Figueiredo, dando conta que já há pelo menos oito obras licitadas.
O foco do meu trabalho é com crianças, semeando coisas boas Leandro Figueiredo
O artista, que admite querer dar continuidade a este projecto inclusivo, deixa também um apelo a outros tantos mecenas que queiram contribuir para esta causa:
Faço um convite àquelas pessoas que realmente se sensibilizam e que deixam a hipocrisia de lado, para que estejam lá, participem e ajudem de alguma forma (…). Se cada um fizer uma parte não é difícil. Difícil é para uma mãe ou para uma associação destas manter-se Leandro Figueiredo
Ana Luísa Caires indica que, na Madeira, o número de pessoas diagnosticadas com perturbações do espectro do autismo deve “rondar os 250 a 300”. A Associação ‘Os Grandes Azuis’ – sediada na Rua Dr. Fernando Rebelo, Conjunto Habitacional de Santo Amaro II, Bloco 1, Lojas 2 e 6, Funchal – proporciona-lhes terapias e actividades diversas, abrangendo crianças desde o seu nascimento até (e durante) a fase adulta.