E se os jovens falharem?

Vivemos numa sociedade que idolatra o sucesso. Desde cedo, somos moldados para acreditar que o Êxito é o Único caminho possível, e que a falha é algo a evitar a todo o custo. Os pais, com o desejo natural de protegerem os filhos, frequentemente criam uma redoma de segurança em torno dos jovens, tentando afastá-los de qualquer erro, de qualquer tropeço. Mas será isso o mais benéfico? Talvez seja hora de reavaliar o valor da falha no crescimento.

Lembro-me de uma conversa que tive com um amigo, pai de dois adolescentes. Ele contou-me, com orgulho, como sempre fez questão de abrir caminho para os filhos, para garantir que não enfrentassem os mesmos obstáculos que ele encontrou na sua juventude. Era, na sua visão, uma forma de amor. No entanto, à medida que os filhos cresciam, ele começou a notar algo perturbador: a falta de autonomia. Eles não sabiam como lidar com os pequenos fracassos, as pequenas adversidades do dia-a-dia. Na escola, ao menor sinal de dificuldade, havia frustração, ansiedade, até medo. E, assim, o que era suposto ser um ato de proteção revelou-se, ironicamente, um obstáculo ao desenvolvimento dos jovens.

A verdade é que falhar é essencial. É através do erro que se aprende, que se cresce. Quando retiramos essa oportunidade aos jovens, estamos, na realidade, a impedir que desenvolvam as ferramentas emocionais e cognitivas para lidar com as dificuldades que, inevitavelmente, vão encontrar ao longo da vida. Falhar ensina resiliÊncia. Cada queda é uma lição: “Como posso fazer melhor da próxima vez? O que aprendi com este erro?” Estas são as perguntas que moldam o caráter, que constroem a verdadeira confiança — não a confiança de quem nunca falhou, mas a de quem falhou e se levantou novamente.

No entanto, vivemos numa era em que o erro é publicamente punido, especialmente nas redes sociais. Um erro, por menor que seja, pode transformar-se num estigma digital. E é precisamente por isso que se torna cada vez mais crucial ensinar os jovens que falhar é normal, humano e, acima de tudo, uma oportunidade para evoluir.

O medo da falha é paralisante. Quantos jovens, por receio de não serem perfeitos, deixam de arriscar? Quantos talentos são sufocados porque a sociedade, e muitas vezes os próprios pais, lhes dizem que falhar não é uma opção? Precisamos de uma mudança de mentalidade. Precisamos de entender que o caminho para o sucesso não é uma linha reta, mas sim uma estrada cheia de curvas, algumas mais acentuadas que outras, e que cada desvio, cada erro, nos aproxima mais de quem realmente somos.

O futuro não pertence àqueles que nunca falham, mas sim àqueles que aprendem a transformar as suas falhas em oportunidades. Deixem os jovens falhar, deixem-nos tropeçar e levantar-se por conta própria. Porque é nesse processo, e só nesse processo, que se constrói a verdadeira força interior.

José Augusto de Sousa Martins