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80% dos jovens madeirenses não praticam Desporto Federado

Não basta criar um Programa de Apoio ao Desporto e distribuir dinheiro

A prática desportiva é fundamental para o crescimento integral dos jovens, contribuindo para a sua saúde, bem-estar emocional, formação social e ética.

Os indicadores publicados, há alguns dias, sobre esta área do nosso desenvolvimento, deveriam fazer corar de vergonha os nossos governantes madeirenses. Todavia, em vez de reconhecerem os erros e de tentarem encontrar soluções, preferiram despejar a propaganda do regime, espalhar o negacionismo e continuar a promover uma realidade paralela.

Em 2023, existiam 28.978 jovens na Região, entre os 15 e os 24 anos, e destes, apenas 5.610 praticavam desporto federado. Isto é, quase 80% dos nossos jovens não praticam desporto. Muito, muito grave! Outro dado preocupante é que 70% dos praticantes são masculinos, apenas 30% são femininos e torna-se oportuno referir ainda que 7 mil daqueles jovens, dos 16 aos 34 anos, não estavam a estudar nem a trabalhar.

Embora existam outros problemas estruturais por resolver, também o facto de os atletas terem de pagar para praticar desporto federado, nos escalões iniciais de formação, fecha a porta a muitos jovens sem meios económicos para pagarem a inscrição, a mensalidade e o equipamento.

Torna-se oportuno lembrar que os jovens da Região desesperam sem poder de compra para constituir família, arrendar ou adquirir uma habitação. Sobrevivem à procura de empregos estáveis, de salários condignos e pela possibilidade de conciliarem a vida pessoal com a atividade profissional. Somos a Região com a maior taxa de risco de pobreza e exclusão social e com o salário líquido mais baixo do país. A ser verdade que alguns clubes são sensíveis a esta matéria, mesmo assim, esta exigência funciona como elemento desmotivador para qualquer família.

Como todos os estudos revelam, esta falta de prática desportiva traz consequências graves ao nível da saúde dos cidadãos. Se incidirmos apenas no peso, os indicadores revelam que 37,9% da população madeirense apresentam excesso de peso e 19,5% obesidade. Entre os mais novinhos, a situação é idêntica, 32% das crianças entre os 6 e os 8 anos de idade têm excesso de peso e 14% são consideradas obesas.

Não basta criar um Programa de Apoio ao Desporto e distribuir dinheiro, com critérios e valores discutíveis. Urge avaliar todo sistema, mudar de modelo e trazer a escola para a centralidade da solução. Definir objetivos mais ambiciosos; traçar renovadas prioridades; redefinir estratégias que mobilizem mais jovens e adultos para a prática desportiva; trabalhar um outro nível de cooperação entre as associações, os clubes e as escolas, em prol do desenvolvimento de uma nova dinâmica ao nível da prática desportiva e da atividade física dos madeirenses.

Estamos perante um problema estrutural que exige, por um lado, conhecimento e competência para repensar tudo e, por outro, coragem para investir num outro paradigma de desenvolvimento que garanta um futuro melhor para toda a população.