Quercus diz que "não se compreende" como é que o IFCN autorizou casamento no Fanal
O Núcleo Regional da Quercus - Madeira reagiu à autorização, do Instituto de Florestas e Conservação da Natureza (IFCN), para a realização de um casamento, no passado sábado, numa "zona de repouso e silêncio do Fanal", dizendo que "não se entende" como é que foi permitido o evento que contou "com mais de 200 pessoas, nesta área protegida".
Em nota enviada à comunicação social, esta noite, a instituição refere que a "direcção do Instituto de Florestas e Conservação da Natureza (IFCN) deveria conhecer o zonamento do Parque Natural da Madeira e o estatuto de protecção de cada uma das zonas existentes".
Acrescenta ainda: "Este Parque Natural foi criado em 1982 pelo Decreto Regional nº14/82/M de 10 de Novembro, tendo como objectivo proteger o património natural da ilha da Madeira. Cerca de dois terços da área da ilha está integrada no Parque, abrangendo um total de 56.700 hectares. No interior do Parque, os espaços apresentam características muito diferentes, pelo que foram criadas Zonas com diferentes classificações. Entre as várias zonas definidas mencionamos: Reserva Natural Integral, Reserva Parcial, Reserva Geológica e de Vegetação de Altitude, Zona de Repouso e Silêncio, entre outras".
Dá conta que o Fanal corresponde a uma Zona de Repouso e Silêncio, cuja fruição pelos visitantes obedece a determinadas regras. De acordo com a definição de Zona de Repouso e Silêncio podemos ler: "Área de recreio condicionado e destinada ao recreio silencioso e ao repouso, onde não é permitida a circulação de automóveis ou veículos motorizados, além dos indispensáveis ao serviço. Dispõe de abrigos de montanha ou pousadas perfeitamente integradas na paisagem, de acordo com projecto a aprovar. É permitido o acesso a turistas ou visitantes, tendo em conta o limite da capacidade dos abrigos, prevendo-se equipamentos desportivos e recreativos apropriados, mas tendo sempre em atenção a condição básica de evitar qualquer tipo de poluição, sonora ou outra."
"Não se compreende como é que uma ilha como a Madeira, com um património natural de elevadíssimo valor, não tome medidas para salvaguardá-lo, e o utilize apenas para atrair turistas (cujo excesso o está a destruir), para apadrinhar a construção de obras públicas e privadas, (por exemplo, pavimentação do Caminho das Ginjas e teleférico do Curral das Freiras) e para a realização de eventos (casamento na área protegida do Fanal e provas desportivas)", refere a Quercus.
E continua: "Não se compreende porque é que, nesta região, não se determinam capacidades de carga para as áreas protegidas e para os percursos que as atravessam, nem é feito um controlo do acesso dos visitantes".
A entidade questiona que num contexto de alterações climáticas, em que as "precipitações são cada vez menores e as temperaturas são cada vez mais elevadas, e com o previsível aumento da frequência e intensidade dos fenómenos meteorológicos extremos, que por si sós constituem uma ameaça ao nosso património natural, assistimos ainda a uma crescente pressão humana sobre as áreas protegidas! Como é que se pode ser tão negligente em relação à defesa da floresta e da Natureza como um todo?
"Está a ser posto em causa o nosso futuro e o das próximas gerações! Temos de dizer basta", remata.