Dois mortos e sete feridos em tiroteio na sede da gigante russa Wildberries
Pelo menos duas pessoas morreram e sete ficaram hoje feridas, incluindo dois polícias, num tiroteio ocorrido na sede da gigante russa do comércio eletrónico Wildberries, segundo um primeiro balanço oficial anunciado pelos investigadores.
"Sete pessoas ficaram feridas, entre as quais dois agentes da polícia que se tinham deslocado às instalações para pôr termo a ações ilegais", declarou o Comité de Investigação russo num comunicado.
"Outras duas pessoas sucumbiram aos ferimentos", acrescentou, confirmando as duas vítimas mortais anteriormente noticiadas pelas agências russas.
O tiroteio na sede da Wildberries -- a Amazon russa --ocorreu a poucas centenas de metros do Kremlin (sede da presidência russa), em pleno centro de Moscovo, num bairro ultra-seguro e num contexto de profundo desacordo entre o casal fundador da empresa russa, que está em processo de divórcio.
Tatiana Bakalchuk, a mulher mais rica da Rússia, e Vladislav Bakalchuk estão em desacordo há várias semanas sobre o futuro da Wildberries, da qual ela detém 99% e o marido 1%.
As agências noticiosas russas também referiram dezenas de detenções, mas as autoridades ainda não se pronunciaram sobre esse aspeto.
De acordo com o relato de Tatiana Bakalchuk na plataforma digital Telegram, o marido primeiro "tentou entrar nos escritórios" acompanhado de dois ex-dirigentes do grupo e de indivíduos armados.
O grupo Wildberries afirmou, em declarações à agência de notícias francesa AFP, que "os homens armados que acompanhavam Vladislav Bakalchuk foram [então] os primeiros a abrir fogo", ferindo polícias e seguranças.
Por seu lado, o marido, de 47 anos, relatou os acontecimentos de forma radicalmente diferente: no Telegram, afirmou que os seguranças lhes "recusaram logo a entrada" e "começaram um tiroteio" que feriu os seus acompanhantes.
"Os meus homens não estavam armados, estávamos a ser protegidos por agentes da polícia. Os primeiros tiros vieram do interior do edifício", insistiu, descrevendo "o pânico" das pessoas no local e "fumo por todo o lado".
Vladislav Bakalchuk disse que se tinha deslocado à sede da empresa "para negociar o fim da construção de armazéns", um dos pontos de discórdia com a mulher, que asseverou que "ninguém tinha concordado com qualquer discussão" hoje.
A Wildberries, fundada em 2004, está presente em vários países da ex-União Soviética e afirma gerir mais de 10 milhões de encomendas por dia. Esta história de sucesso fez de Tatiana Bakalchuk, de 48 anos, a mulher mais rica da Rússia. A sua fortuna é estimada pela revista norte-americana Forbes em 7,9 mil milhões de dólares (7,1 mil milhões de euros).
Uma raridade entre os multimilionários da Rússia, Tatiana Bakalchuk não pertence ao círculo de oligarcas históricos que assumiram o controlo dos principais grupos estatais do país na década de 1990.
O casal Bakalchuk, que teve sete filhos, está em guerra aberta desde que a Wildberries anunciou, em junho, um projeto de fusão com o grupo de publicidade Russ, que tem muito menos peso na economia nacional.
O Kremlin, que vê nesse plano a possibilidade de criar uma gigante russa capaz de competir com a Alibaba e a Amazon, apoia tal união, promovida por Tatiana Bakalchuk, enquanto o marido se lhe opõe firmemente.
Em julho, Vladislav Bakalchuk queixou-se abertamente a Ramzan Kadyrov, Presidente da Chechénia, onde a mulher nasceu.
O dirigente checheno, conhecido pelos seus métodos violentos e por múltiplos interesses económicos, abraçou a causa do marido, classificando o projeto de fusão como uma "fraude em grande escala" que acabou "nas mãos erradas".
Num vídeo publicado 'online', o líder autoritário checheno garantiu que "traria [Tatiana Bakalchuk] de volta à família".
A presidente-executiva do grupo pediu oficialmente o divórcio no final de julho e, segundo a imprensa russa, o marido exige o controlo de 50% das ações da Wildberries.