Há 60 anos falava-se dos problemas do Turismo
A 18 de Setembro de 1964, faz hoje 60 anos, o DIÁRIO dava continuidade à análise de números do turismo, nomeadamente do número de unidades/camas de hotel e o de turistas que visitavam a Madeira, com o título "Este problema Turismo" na primeira página.
Nessa análise, escrita por Ramon Corrêa Rodrigues, recordava que no Relatório da Delegação de Turismo da Madeira apontava para um crescimento de 32% de turistas em 1963 face a 1962, recordando o autor que "a capacidade hoteleira desta ilha estava aumentando, permitindo já uma hospedagem na ordem dos seis mil turistas por mês, número este que obriga, quanto antes, a um exame atento às circunstâncias em que a evolução hoteleira se efectiva em presença dos interesses regionais das tradições desta indústria e das preferências que a Madeira deve continuar a merecer por parte de um turismo que também evolucionou, se mostra cada vez mais curioso e não menos exigente". Outros tempos.
Acreditando que a indústria do turismo da Madeira estava a dar os primeiros passos, da internacionalização e do seu papel na economia local, o autor diz que esta tinha de "actualiza-se, o que não significa despersonalização, enquadramento no comum, mas simplesmente conhecimento do que existe, como ponto de partida para o que pretende alcançar".
Na altura, tal como agora, ingleses, franceses, dinamarqueses, suecos, alemães e americanos, eram as cinco nacionalidades que mais visitavam a ilha, discorrendo depois o autor no número de dias de permanência, onde ficavam a dormir, concluindo que "com toda a razão, pois, se tem afirmado que o turismo madeirense é um turismo de alta categoria", com um índice de 67 turistas por cada mil residentes, bem acima da média nacional, que era de 40. Previa-se, então, um aumento do índice para 240/1.000, com os investimentos previstos para ter "uma capacidade hoteleira na ordem dos mil a dois mil quartos, o que corresponde à possibilidade de receber cerca de 15 mil turistas por mês".
Refira-se a propósito que, no mês de Julho de 2024, a Madeira recebeu 211,9 mil hóspedes e nem é o mês mais forte. Em 1964, números oficiais, recebeu 26.695 hóspedes.
Nessa edição do ano 88.º e número 29.252 do DIÁRIO,, outros temas se evidenciam, nomeadamente já se falava na "previsão dos tremores de terra" como uma "esperança para a humanidade", falando-se em "exactidão e com uma antecedência de uma hora ou mais, o que dará tempo suficiente para que muitas vidas sejam salvas". Uma esperança nascida de "perturbações no campo magnético terrestre" que precederam "os desastrosos terramotos que sacudiram o Alasca, em Março".
Sessenta anos depois, sabemos que isso não é possível, no máximo com segundos de antecedência. O IPMA esclarece: "A previsão sísmica entendida como o ato de prever um sismo de modo a que se possam salvaguardar pessoas e bens, dentro de um prazo curto (horas ou poucos dias) não foi ainda descoberta. Não são reconhecidas variações de parâmetros simples ou conjuntos de parâmetros que permitam, por si só, estabelecer com certeza uma previsão quando, onde e com que magnitude vão ocorrer sismos. (...) ...ainda é virtualmente impossível saber quando é que uma estrutura sísmica vai libertar de forma brusca a sua energia sísmica potencial."
Na edição, com uma guerra no Ultramar no seu início, notícias vindas da Guiné diziam que "as Forças Armadas têm completa liberdade de iniciativa".
Esta edição noticiava ainda a certeza do título sobre a guerra civil no Vietname. "Dominada definitivamente a última rebelião"... estávamos em 1964, numa guerra que duraria até 1975, oito das quais (entre 1965 e 1973) com participação directa do exército norte-americano. Uma das guerras trazidas ao imaginário popular pelo cinema, mas que na altura vivia-se no dia-a-dia com 'takes' das agências de notícias.
Na mesma página, aliás, outra notícia de um facto que marca a humanidade há décadas, a 'Guerra Fria' e os temores da ameaça nuclear, com o então presidente soviético Nikita Kruschtchev que acenava com a arma de "extermínio da humanidade". Hoje, uma guerra a Leste continua a ser uma ameaça acenada em constância.
Destacamos ainda cinco outras notícias de relevo e curiosas, no fundo. Quando o apoio público de uma Miss América era importante para a eleição à Presidência dos EUA; o artista plástico Salvador Dali catalogava Humberto Delgado como terrorista "que seria condenado em qualquer país"; o diagnóstico do cancro, anunciado por médicos italianos, estava na sua primeira fase; o cantor popular Francisco José que ficou ferido num acidente de viação na Madeira não foi notícia cá, antes de o DN de Lisboa o noticiar, por respeito e para não alarmar os familiares e amigos do Continente...; por fim, os Jogos Olímpicos de Tóquio que estava a dar os primeiros passos com a recepção dos atletas na aldeia olímpica e as primeiras projecções aos favoritos e potenciais recordes.