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IA, jornalistas e professores virtuais

Uma vez que os avatares gerados através de inteligência artificial (IA) não se cansam, não representam grandes custos, não adoecem e não tiram férias, não será normal questionarmo-nos se, dentro de uns anos, não poderemos todos ser substituídos?

É que a IA está cada vez mais presente no nosso dia a dia. E de uma forma quase assustadora. O cenário de ligarmos a televisão e nos depararmos com uma personagem fictícia em vez do habitual jornalista parece ser cada vez mais uma possibilidade. Na verdade, é já uma realidade, na medida em que há já pelo menos um canal de notícias feito inteiramente com recurso a IA e, na Venezuela, por exemplo, após o ato eleitoral de 28 de julho que reelegeu de forma muito contestada o presidente Nicolás Maduro, devido aos ataques à liberdade de expressão que atingiram níveis preocupantes, na medida em que têm sido presos e exilados jornalistas, recorre-se à IA para criar pivots.

Também em Espanha foi criada através de inteligência artificial a primeira apresentadora de um reality show. Embora o programa de televisão seja real e a rubrica com os resumos semanais exista, assim como os concorrentes, a apresentadora, não. E curiosamente Alba Renai tem já 18,3 mil seguidores no Instagram e 40 mil no TikTok.

Por outro lado, tanto em Hong Kong, numa universidade, como em Londres, numa escola privada, os alunos iniciam este novo ano letivo com aulas diferentes, com professores gerados por IA. Esta promete ser uma nova forma de combater a falta de pessoal na área da educação, o que vai, aliás, ao encontro de uma das pretensões de um dos cofundadores da OpenAI.

É inegável. A IA permitiu aprimorar vários setores, passando a ser usada em variadíssimas áreas, como no atendimento ao público, através da automatização do suporte ao cliente, e até mesmo na criação de enredos para filmes. Ganhou fãs em diferentes contextos, seja empresarial, académico ou científico.

O lançamento do ChatGPT foi o início de uma autêntica revolução na inteligência artificial generativa. Com um simples click, passou a ser possível produzir – em apenas segundos – textos, imagens, áudios e vídeos. Devido à sua utilidade e potencialidade, foi rapidamente adotado em vários setores da sociedade, tornando-se parte integrante da vida diária das pessoas. Cinco dias após o seu lançamento, em 2022, alcançou um milhão de utilizadores, sendo que hoje conta já com mais de 200 milhões de usuários semanais.

A OpenAI tem melhorado constantemente as versões do ChatGPT, que ganhou voz, várias tonalidades de vozes, entoações nas respostas e até ‘memória’. Tudo com o intuito de melhorar a experiência do utilizador.

Conforme divulgado por alguns estudos e segundo notícias vindas a público, até 2025, espera-se que a IA substitua aproximadamente 85 milhões de empregos, tendo consequências para 40% das profissões em todo o mundo, sobretudo as que têm qualificação elevada.

Mas tentemos animar-nos com notícias mais reconfortantes: também deverá permitir criar 97 milhões de novas funções em diferentes tarefas, criando oportunidades no desenvolvimento de IA, aprendizagem automática e ciência de dados.

Voltando aos exemplos dados nas áreas da comunicação e do ensino, a IA tem um impacto tal que tem sido necessário mudar de paradigma e fazer profundas e constantes adaptações às novas realidades.

Quanto aos jornalistas, que cada vez mais recorrem à IA como uma ferramenta de trabalho, há mesmo quem defenda a necessidade de uma regulamentação específica para limitar o uso da IA por parte destes profissionais.

Por outro lado, reconhece-se, nesse contexto, os ‘exojornalistas’ (tradução do inglês – “exo journalist”) como os profissionais da área da comunicação que recorrem às novas tecnologias de inteligência artificial para melhorarem o seu trabalho e a sua produtividade, sendo que as ferramentas de IA não os pretendem substituir, mas complementar as suas tarefas.

Portanto, até ao momento, tudo aponta para que a IA dificilmente possa desempenhar total e eficazmente as funções de um jornalista, sobretudo por questões relacionadas com critérios, ética e deontologia.

Também no ensino, a adaptação ao uso de IA tem de implicar formação e orientação ética específica, sobretudo para que se inclua a inteligência artificial no ensino como um complemento e não como um substituto dos professores.