Constrangimentos nas empresas de transporte afectam sobretudo indústria
O presidente da Associação Nacional de Transportadores Públicos Rodoviários de Mercadorias (ANTRAM) diz que há "várias centenas de camiões" impedidos de fazer descargas devido aos incêndios que deflagram no país e aponta que o setor industrial é o mais afetado.
"Há várias centenas de camiões que estão a ser impedidos de fazer o seu trabalho", devido ao facto de haver várias cortadas ou de haver fábricas a serem evacuadas devido aos incêndios, afirma o presidente da ANTRAM, em declarações à agência Lusa.
Pedro Polónio adianta que os constrangimentos começaram na segunda-feira e que ao longo desta tarde "a situação não tendeu a melhorar" dado o aumento do número de estradas cortadas e o fogo a não dar tréguas.
O presidente da ANTRAM não antevê quaisquer problemas ao nível de abastecimento do setor alimentar, mas admite constrangimentos para a indústria.
"Claramente as empresas industriais são aquelas que estão a ser mais afetadas porque também pedem um grande movimento de camiões e depois têm linhas de produção em série, em que precisam de vários componentes. Muitas vezes, basta que um determinado componente falte e pode parar uma fábrica inteira", explica.
Com "camiões bloqueados" e outros que estão a "fazer centenas de quilómetros" para fazer face às estradas cortadas, o impacto deverá ser "fortíssimo" para um setor que movimenta mais de 70 mil camiões. Mas, para já, tudo o que podem fazer é "acompanhar e redirecionar os motoristas", tendo sempre em atenção as recomendações da Proteção Civil e das restantes autoridades. "São dias de muita azáfama, muito trabalho", mas "mais importante é apoiar as pessoas que estão a perder as suas coisas", desabafa.
Entre as transportadoras afetadas está a empresa Luís Simões, que segunda-feira teve que interromper temporariamente o transporte de mercadorias entre Lisboa e Porto e enfrentou constrangimentos e atrasos na entrega das mercadorias aos seus clientes devido aos cortes nas estradas causados pelos incêndios que atingem o país.
Num ponto de situação à Lusa pelas 15h02, o diretor de operações da transportadora confirmou que entre o fluxo das duas principais cidades do país já conseguiu "regularizar a atividade" e têm a "operação com atrasos mínimos".
"Durante a madrugada conseguimos realizar as entregas nas principais plataformas quer da LS, quer da Grande distribuição e demais clientes. Conseguimos também retirar algumas viaturas na zona de Aveiro que estavam em parques de segurança que eram maioritariamente veículos desviados ontem às primeiras horas dos incêndios", acrescenta.
Por fim, a Luís Simões revelou que nesta fase a maior preocupação está direcionada para o fluxo ibérico. "As limitações na A25 e A24 estão a condicionar, gerando atrasos ou desvios de muitos quilómetros. Também alguns fluxos industriais para a zona de Mangualde/Nelas ou foram suspensos pelos clientes ou estamos a faze-los com fortes limitações", disse.
Pelo menos sete pessoas morreram e 40 ficaram feridas, duas com gravidade, nos incêndios que atingem desde domingo a região norte e centro do país, nos distritos de Aveiro, Porto, Vila Real e Viseu, destruíram dezenas de casas e obrigaram a cortar estradas e autoestradas, como a A1, A25 e A13.
As mais recentes vítimas são três bombeiros que morreram hoje num acidente quando se deslocavam para um incêndio em Tábua, distrito de Coimbra.
A área ardida em Portugal continental desde domingo ultrapassa os 62 mil hectares, segundo o sistema europeu Copernicus, que mostra que na região norte e centro, atingida pelos incêndios desde o fim de semana, já arderam 47.376 hectares.
Hoje, cerca das 17:30, a Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC) registava 180 ocorrências, envolvendo mais de 6.300 operacionais, apoiados por 1.900 meios terrestres e 39 meios aéreos.