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Próxima Comissão Europeia reequilibra balança de poder e simplifica estrutura

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A Comissão Europeia apresentada hoje para os próximos cinco anos surpreendeu por reequilibrar a balança de poder geopolítica e simplificou a sua estrutura para ser mais ágil, segundo vários analistas consultados pela Lusa.

"Foi uma surpresa, (...) não era a configuração que aqui na 'bolha' de Bruxelas se especulava", disse à agência Lusa Ricardo Borges de Castro, analista do European Policy Centre.

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, apresentou hoje de manhã no Parlamento Europeu, em Estrasburgo (França), a composição e respetivas pastas do próximo executivo comunitário.

Para o analista há um "sinal claro de que vai haver mais mulheres próximas" da presidente, já que quatro dos seis vice-presidentes executivos são mulheres.

Ursula von der Leyen enalteceu na conferência de imprensa desta manhã que foi possível chegar a uma composição com 40% de mulheres, uma vez que a maioria dos países não demonstrou uma preocupação com a paridade.

Sophia Russack, investigadora no Centre for European Policy Studies, é da mesma opinião: "Foi algo de que ela não gostou, por isso decidiu dar às mulheres pastas importantes. Roménia e Eslovénia aceitaram nomear mulheres e, por isso, receberam boas pastas."

Outra alteração foi a de "deixar a estrutura do colégio [de comissários] mais linear", eliminando vice-presidentes e deixando apenas os seis 'vices' executivos, acrescentou Sophia Russack.

A opinião dos dois analistas é corroborada pela de Dharmendra Kanani, do grupo de reflexão Friends of Europe: "Nunca um presidente da Comissão Europeia foi tão claro na necessidade de haver paridade, acho que é importante que tenha feito finca-pé disso".

E "da última vez não correu muito bem com vice-presidentes executivos e vice-presidentes, agora só há uma camada", reconheceu Sophia Russack, opinião que é partilhada com Dharmendra Kanani, que considerou que von der Leyen "removeu a camada intermédia" e este modelo de cooperação entre comissários "deve fazer com que a Comissão seja mais ágil".

Os três investigadores concordam que houve uma "alteração na balança de poder", como descreveu a analista do Centre for European Policy Studies: "Há países que já entraram na União Europeia há 20 anos e não podemos continuar a dizer que não sabem como é que tudo funciona, por isso, estão a chegar-se à frente."

"É uma Comissão mais inclusiva do ponto de vista geográfico e creio que isso está refletido nas pastas atribuídas", disse Kanani.

Para Ricardo Borges de Castro, há "um reequilíbrio: é muito importante ver a Finlândia, a Roménia e a Estónia" com uma representação mais preponderante.

O "flanco norte está mais representado, é um sinal da relevância que estes países adquiriram nos últimos anos", completou.

Mas o analista Henrique Burnay alertou para um problema que pode advir de haver comissários cujas pastas se mesclam: "É uma Comissão Europeia onde parece haver uma grande sobreposição de pastas e competências, o que pode criar risco de conflitos, ou apenas reforçar o poder da presidente."

Para Burnay, Ursula von der Leyen quer fazer da competitividade a grande temática dos próximos cinco anos.

"Passámos da Greta [Thunberg] a [Mario] Draghi [antigo primeiro-ministro italiano que apresentou um relatório na semana passada sobre o maiores desafios do bloco]", completou.

Dharmendra Kanani acrescentou que há outra questão que está vertida na composição do colégio e que tem importância central: o alargamento.

"Vai ser o maior desafio socioeconómico, sem qualquer dúvida", por isso Ursula von der Leyen "reequilibrou a União Europeia, para dar mais palavra, e potencialmente mais poder, a outros países na discussão" sobre o futuro do bloco comunitário, já "não são apenas os países do norte ou as maiores economias", referiu o analista do Friends of Europe.

Sobre a próxima etapa do processo, que inclui a aprovação do colégio no Parlamento Europeu, Burnay considerou que a Ursula von der Leyen está a tentar apaziguar as reações dos socialistas a uma vice-presidência para a direita radical.

"Ao justificar a vice-presidência para Itália com a existência de duas vice-presidências no Parlamento Europeu para o mesmo grupo político [ECR], a presidente da Comissão Europeia tenta limitar a legitimidade do argumento do Parlamento Europeu. Mas o tema é demasiado importante para os Socialistas & Democratas (S&D) e Os Verdes, especialmente estes, e para o Renovar a Europa [liberais], para se resolver assim tão facilmente. Embora os eurodeputados possam perceber que este é, provavelmente, o nome italiano do ECR mais moderado que Giorgia Meloni podia mandar", sustentou.