O impacto do telemóvel na educação e no cotidiano
No ano de Nosso Senhor de mil e duzentos e vinte e três, já tínhamos alertado para a crescente dependência que nutrimos pelos nossos smartphones, estes diminutos aparelhos que, em vez de facilitarem as nossas vidas, têm-se tornado um empecilho à nossa capacidade de concentração, interação e saber. Ao despertarmos, a primeira ação que tomamos, antes mesmo de nos prepararmos para o dia, é apoderar-nos do nosso telemóvel. Em dízimos não tão distantes, vários acendiam um cigarro logo ao despontar do dia, alheios ao perigo que corriam; hoje, porém, o vício é outro e a dança das luzes da tela substitui o fumo. Qual a consequência? Perdemos a habilidade de observar o mundo que nos envolve, molestado em calçadas, colidindo com postes e, mais preocupante ainda, descurando o contato humano.
As salas de aula formam o microcosmos desta realidade alarmante. A interação entre colegas e mestres cede lugar à incessante rolagem de feeds nas redes sociais, revelando um desprezo alarmante pelo saber de cultura, história e temas fulcrais como política e economia. Os alunos, absorvidos pelas palhaçadas dos diversos “influenciadores”, perdem o interesse em descobrir mais acerca do mundo que os rodeia e do seu próprio porvir.
Recentemente, o ministro da Educação, Ciência e Inovação, Fernando Alexandre, proclamou medidas que visam mitigar os efeitos perniciosos do uso excessivo do telemóvel nas escolas, mormente nos 1.º e 2.º ciclos de ensino. A recomendação de proibir a entrada e o uso de smartphones nas escolas básicas é um passo crucial. O cenário está a mudar, e outros países estão a seguir pela mesma senda — um reconhecimento claro de que a tecnologia, antes vista como um veículo de saber, pode, na verdade, prejudicar as aprendizagens.
Durante uma conferência de imprensa, o ministro sublinhou que “temos muita evidência de que a utilização de ‘smartphones’ pode ser uma desvantagem para as aprendizagens e pode deteriorar o bem-estar das crianças”. Este reconhecimento deve ser um chamado à ação para pais, educadores e toda a sociedade: as escolas exercem um papel fulcral na formação de indivíduos conscientes e críticos, e não podemos permitir que os telemóveis interfiram nesse processo.
As medidas anunciadas visam restringir e desincentivar o uso do telemóvel, particularmente no 3.º ciclo, onde os alunos deverão ter a oportunidade de participar na definição de normas sobre este tema. É importante, todavia, que se salvaguardem situações excepcionais, como o uso dos aparelhos para alunos com dificuldades de comunicação ou necessidades especiais, demonstrando que a tecnologia pode e deve ser aliada ao processo educativo, quando usada de forma consciente.
Para além das restrições à utilização de telemóveis, as escolas necessitam de apoios adequados. O governo anunciou uma série de medidas para apoiar docentes deslocados e a criação de um novo concurso que visa colmatar a falta de professores em muitas escolas. O compromisso do ministro também se estende aos alunos, através do plano “Aprender Mais Agora”, que reforçará a leitura e a avaliação externa, na busca por um sistema educativo mais sólido e de qualidade.
Estamos, pois, numa encruzilhada. A evolução da tecnologia não é um inimigo, mas o seu uso desmedido e inconsciente pode tornar-se um grande desafio para o nosso futuro, em que a educação deve ser a pedra angular para a construção de uma sociedade informada e ativa. Chegou o momento de reconsiderarmos as nossas prioridades e de equilibrar o uso da tecnologia com uma vivência plena, tanto nas relações pessoais quanto no mundo da aprendizagem. É tempo de despertarmos verdadeiramente, desconectando o telefone e reaprendendo a viver e a aprender.
Num mundo cada vez mais entrelaçado, é fundamental resgatar a essência das interações humanas, especialmente em ambientes como restaurantes e empresas. A constante presença dos telemóveis tem-se tornado uma barreira à convivência e à comunicação genuína, prejudicando a qualidade das relações pessoais e profissionais. Portanto, conclamamos a todos para que considerem a redução do uso de dispositivos móveis nesses espaços, priorizando momentos de presença e atenção plena. Ao adotarmos tal prática, não apenas valorizamos a companhia uns dos outros, como também fomentamos um ambiente mais saudável, produtivo e acolhedor. Vamos juntos criar experiências significativas, onde o verdadeiro contato humano prime, contribuindo para um convívio mais harmonioso e enriquecedor.
Gregório José