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A ferro e fogo

Há cerca de um mês começava um incêndio florestal na zona da Serra de Água. Consequência de fogo de artifício, numa terra normal levaria a um processo de interiorização, e racionalmente seria pelo menos discutida a possibilidade da proibição de foguetes em zonas florestadas, especialmente em meses de verão – mas não, tudo continua bem. O que é preciso é promover as festas e arraiais.

Não vou sequer discutir a forma como foi gerido o incêndio, falta-me o conhecimento para isso, mas com base no conhecimento, teórico e empírico, em termos de comunicação, foi um desastre pelo menos tão grande como a área ardida. Informação contraditória, prepotência, arrogância, incúria, indiferença e falta de empatia – vimos de tudo um pouco… aliás, infelizmente, vimos de tudo isto mais do que algumas vez gostaríamos.

Não vou discutir a necessidade de férias do senhor presidente. Acredito que fossem prementes… da mesma forma que acredito que ninguém precisasse dele no processo de decisão e de gestão do fogo. Mas a demora na sua chegada à Madeira, e a forma como comunicou depois da sua chegada, não corresponderam à necessidade da população de alguma empatia, solidariedade e humanidade.

Mas o incêndio tem outro tipo de consequências, e constitui um sinal importante. A natureza cíclica em que ocorre, mostra a falta de investimento na constituição e proteção de um coberto vegetal mais adequado às necessidades e características da ilha. De uma forma menos directa, mostra a falta de prioridade que constitui a natureza, que deveria ser o grande trunfo para o futuro da Madeira. Quer em termos de turismo, mas especialmente em termos de salvaguarda de um futuro melhor para as gerações que nos seguem.

Mas mesmo em termos de turismo, as decisões tomadas, e talvez de forma mais relevante, as decisões não tomadas, mostram claramente a incapacidade deste governo – que gere há quase cinquenta anos os destinos da Região – de compreender as necessidades e prioridades da Madeira e do Porto Santo, e as muitas decisões tomadas mostram mais a falta de uma estratégia abrangente e a necessidade de satisfazer uma enorme clientela de tachos para apoiantes e simpatizantes do que abertura para entender os problemas e inteligência para os resolver.

E isto aplica-se ao incêndio, da mesma forma que se aplica ao estacionamento abusivo nas montanhas da Madeira (que continua…), à nítida sobrecarga de turismo na Madeira, e à erosão, notória, da qualidade (a vários níveis) dos que nos visitam.