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Educação nossa de cada dia

Eis que mais um ano letivo começou e com ele o entusiasmo e a azáfama habitual de alunos, pais e professores para tudo organizar e acomodar permitindo o seu início com a tranquilidade necessária.

É verdade que a rotina é idêntica ano após ano, mas o processo educativo tem sofrido grandes mutações ao longo do tempo.

Ainda há poucos dias, numa visita a uma das escolas do concelho, no primeiro dia de aulas fui encontrar a docente com os seus alunos do quarto ano sentados numa roda, no chão, a conversar sobre a temática da aula, numa dinâmica de proximidade e envolvência únicas e impensáveis há trinta anos atrás.

Esta forma de interação demonstra que a escola tem progressivamente abandonado a sua singela e tradicional função de ensinar, complementando-a com a de educar, praticando com os alunos uma verdadeira dialética do conhecimento, onde a troca de ideias e experiências se sobrepõem muitas das vezes ao simples monólogo do docente. Interessa mais espicaçar o raciocínio e o pensamento do que ouvir a resposta decorada.

Toda esta dinâmica do ensino tem procurado também acompanhar a própria evolução da realidade social e com os pais cada vez mais ocupados, a escola é muitas das vezes o garante da educação das crianças. Atenção que não quero com isto generalizar nem afirmar que os pais da atualidade estão alheados da educação dos seus filhos, muito pelo contrário, eles vêm-se obrigados a serem super pais e mães, para conciliar as atuais exigências profissionais e familiares.

Mas a verdade é que a velocidade desenfreada das nossas vidas leva-nos muitas vezes a cair no erro e tentação de compensar materialmente as ausências e falta de tempo contribuindo para uma cada vez menor capacidade das crianças e jovens de lidar com as suas frustrações.

Nem se pense que a escola substitui a família no seu papel educativo, este tem de vir de casa e quando assim não acontece, as consequências não tardam a chegar, apesar de residuais, são notícias de alunos e até de pais que ofendem verbal e fisicamente professores, que nos chocam e nos fazem refletir sobre o exemplo que estes pais estão a dar aos seus filhos e o que esperam deles no futuro, senão o seu próprio desrespeito e alienação dum dos mais elementares deveres cívicos.

A temática da boa educação dentro da escola, o respeito pelos professores a todos diz respeito e importa salvaguardar sob pena de perdermos uma das pedras basilares da sociedade.

Uma outra preocupação inegável, no contexto atual da educação é a diminuição progressiva do número de alunos.

No que ao concelho da Calheta diz respeito o número total de alunos, desde a creche ao secundário, no corrente ano letivo e apesar de ainda não ser definitivo, porque ainda continuam a chegar pedidos de inscrição, manteve-se sensivelmente em relação ao ano anterior, com um aumento mais expressivo nos primeiros anos de escolaridade.

Apesar de reconhecermos que as políticas de apoio à natalidade, levadas a cabo pelo Governo Regional e pelo Município estarem longe daquilo que seria o ideal e que existem outras medidas transversais não menos importantes, como é o caso dos diversos apoios à educação; da construção de fogos a custos controlados, dos passes sociais gratuitos, entre outros, a verdade é que os números também falam por si, o caminho é longo, é verdade mas é para continuar com solidez e confiança.

Importa finalmente homenagear aqueles que são muitas vezes os segundos pais dos nossos filhos, que ano após ano, com todas as suas qualidades e fragilidades os acompanham, estimulam, ensinam, que às vezes também choram e sofrem com eles e merecem de todos nós o nosso maior respeito. Um bem-haja a todos os professores com votos de um excelente ano letivo.