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Gato escondido com rabo de fora

Definir políticas públicas e tomar decisões sobre problemas que existam na sociedade exige estudo, capacidade de gestão, visão e arte nas soluções apresentadas. Isto de colocarem certas pessoas em lugares de decisão e de aconselhamento político sem preocupação pela sua competência e capacidade de trabalho, depois dá asneiras. A verdade é que este trabalho não é para qualquer um.

Às vezes, dou por mim a pensar que andam todos “a fazer pouco da gente”. Uma expressão muito portuguesa para dizer que estão a tomar-nos por tontos. E agora é à descarada. O “rabinho” do gato está totalmente à mostra.

Vem isto a propósito do gatinho escondido com rabo de fora na elaboração dos passes das pessoas com mais de 65 anos.

Este ano, todos os utilizadores dos transportes públicos têm passado pelo processo de elaboração de novo passe para a adaptação ao novo sistema de registo de utilização dos transportes.

Após alguns meses de elaboração de passes, chegaram à conclusão que para as pessoas com mais de 65 anos, a elaboração do cartão de passe tem de ser feita obrigatoriamente nas Casas do Povo. A justificação dada pela Secretaria Regional de Infraestruturas e Equipamentos através da Direção Regional de Transportes e Mobilidade Terrestre é que esta medida visa tornar o processo de substituição dos cartões “mais célere e confortável para os titulares dos passes sociais”.

O que não se entende é porquê apenas as Casas do Povo.

Porventura as empresas de transportes associadas não seriam uma opção mais “confortável” para alguns utilizadores? Tudo depende do local de residência.

Não se percebe porque não dão também a oportunidade de se fazer o novo cartão nas juntas de freguesia. Porquê a obrigatoriedade das Casas do Povo?

Provavelmente quem decidiu não anda de autocarro. Não sabem o tempo que se demora para se chegar a algumas Casas do Povo.

Nem sabem os horários das carreiras. É o que faz tomar medidas de gabinete sem noção das dificuldades da maioria das pessoas…

Para as pessoas que vivem perto das Casas do Povo efetivamente facilitou-se a vida destas pessoas. E para aquelas que precisam de fazer um percurso mais alargado para lá chegarem? Esta obrigatoriedade torna mais difícil a sua deslocação.

Para além de não ter lógica nenhuma não poder fazer-se esta substituição nas instalações das empresas de transporte públicos. O que é isto? Está tudo grosso. É come e cala-te?

A própria Secretaria Regional de Infraestruturas e Equipamentos estima que sejam mais de 40.000 pessoas nesta situação. Se o objetivo é facilitar e agilizar o processo, então porque restringem apenas às Casas do Povo?

Sobretudo não se entende porque deixou de ser possível fazer nos postos de vendas das empresas de transportes públicos.

Com esta imposição de regra, torna-se necessário obter mais informações sobre o contrato com a ACAPORAMA e a ADRAMA para a elaboração deste serviço.

Nomeadamente se existem contrapartidas financeiras pela realização deste trabalho com as Casas do Povo. Informo aos mais distraídos que já estamos quase a entrar no segundo quartel do século XXI e, como costumo rematar em algumas situações - “os tontos ficaram todos no século passado”. Chego mesmo a questionar-me se esta ideia de “ilustres” nada a haver com o facto de termos eleições autárquicas no próximo ano. Tudo depende do que vão fazer com a lista de nomes de pessoas e respetivas residências que as Casas do Povo terão acesso de forma legal a partir de agora.

Estas questões são importantes para todos nós. Informação nas mãos de quem não deve pode dar azo a comportamentos menos corretos. O acesso a informação é a arma de arremesso para muitos. Como é que o processo de informação será conduzido?

Das duas uma: ou o processo foi definido de forma ingénua, ou foram incompetentes. De qualquer das formas, exige correção e proteção de dados de todas as pessoas. Se existe verdadeira preocupação com a vida das pessoas, tomem a partir de agora medidas corretivas.

Se é para agilizar, então que se criem outras oportunidades de escolha de locais de substituição dos cartões. Chamem a este processo as Juntas de Freguesia. E não se impeça a elaboração dos cartões nas empresas de transportes públicos. Mas o que é isto? Cartão para uso de transportes públicos não pode ser feito nas empresas de transporte? Está tudo louco?

Como dizia Ivone Silva e Camilo de Oliveira no programa “Ai Agostinho, ai Agostinha” – Este país perdeu o tino. Está tudo grosso. Está tudo louco! Isto é que vai uma crise! Querem ver que a culpa é da CEE?