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Salvini declara-se "culpado de defender" Itália após pedido de prisão

Foto Tiziana FABI / AFP
Foto Tiziana FABI / AFP

O ministro italiano Matteo Salvini declarou-se hoje "culpado de defender" a Itália, após a procuradoria ter pedido seis anos de prisão por ter impedido, enquanto responsável do Interior, o desembarque de migrantes de um navio em agosto de 2019.

"O artigo 52 da Constituição italiana declara a defesa da pátria como um dever sagrado do cidadão. Declaro-me culpado de ter defendido a Itália e os italianos. Declaro-me culpado de ter cumprido a minha palavra", afirmou, num vídeo divulgado nas suas redes sociais.

A procuradoria do tribunal da cidade de Palermo (sul) pediu hoje uma pena de seis anos de prisão pelos crimes de sequestro e abuso de poder para o líder de extrema-direita, que não compareceu à audiência no tribunal.

Os factos remontam a agosto de 2019, quando Salvini, então ministro do Interior, impediu durante 20 dias o desembarque do navio de resgate da organização espanhola Open Arms, com 147 migrantes a bordo salvos no Mediterrâneo, no âmbito da sua política férrea de portos fechados, para travar a migração ilegal.

Durante todo o processo, Salvini afirmou que a sua intenção era proteger as fronteiras e forçar uma distribuição dos migrantes na Europa e garantiu que as suas políticas eram "partilhadas" pelo resto do governo, uma coligação entre a sua Liga e o Movimento 5 Estrelas, presidido pelo primeiro-ministro Giuseppe Conte.

O líder da Liga lamentou, neste vídeo, com um fundo preto e uma iluminação dramática, que "nunca nenhum governo ou ministro na história foi acusado ou julgado por ter defendido os limites do seu próprio país".

"O meu nome é Matteo Salvini, nasci em Milão a 9 de março de 1973. Sou vice-presidente do Governo e, entre junho de 2018 e setembro de 2019, fui ministro do Interior. Hoje estou a ser julgado e posso ir para a prisão porque no Parlamento a esquerda decidiu que defender as fronteiras é um crime", criticou, aludindo ao levantamento da sua imunidade votado no Senado em julho de 2020.

O político recordou o braço de ferro que manteve com o barco "Open Arms", em agosto de 2019, e garantiu que "em nenhum momento foi impedido de ir a qualquer lugar, exceto a Itália", porque, frisou, o país "não podia continuar a ser o campo de refugiados da Europa".

"Mais de 20 dias de navegação no Mediterrâneo mantendo a bordo todos estes 'clandestinos' [termo utilizado pela extrema-direita italiana para se referir aos migrantes irregulares) quando 72 horas eram suficientes para chegar a Espanha. Este navio espanhol recusou por duas vezes o desembarque em dois portos espanhóis e a ajuda de um navio militar enviado pelo governo espanhol", relatou.

O fundador da Open Arms, Óscar Camps, expressou em comunicado a sua satisfação com o pedido do Ministério Público.

A sentença deverá ser conhecida em meados de outubro.