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Activistas pedem a intervenção de Lula a favor dos presos políticos

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Dezenas de venezuelanos e representantes de ativistas dos direitos humanos pediram hoje ao Presidente do Brasil, Lula da Silva, que interceda junto das autoridades locais pelas mais de 1.800 pessoas que estão presas por motivos políticos no país.

O pedido foi feito numa carta dirigida ao Presidente do Brasil, Luís Inácio Lula da Silva, entregue na Embaixada do Brasil, por participantes numa concentração e marcha em Caracas, que partiu da Praça Bolívar de Chacao (leste da capital) até à sede daquela representação diplomática.

"Deviam [as autoridades brasileiras] interceder porque todas estas pessoas são inocentes (...) não há assassinos, violadores ou ladrões. Aqui temos presos políticos", disse a familiar de um dos detidos no âmbito dos protestos pós-eleitorais.

Sol Ocariz, irmã do ativista dos direitos humanos e militante do partido opositor Primero Justicia, explicou ainda que o irmão está acusado injustamente de terrorismo, incitamento ao ódio e escândalo na via pública.

Ocariz argumentou também que as detenções decorrem devido ao interesse das autoridades em "minimizar a expressão e os direitos dos cidadãos a ter livre pensamento e vontade", contemplados na Constituição.

"Nunca me permitiram vê-lo (...) apenas lhe pude levar roupa e medicamentos", disse.

Por outro lado, Andreína Baduel, irmã de Adolfo Baduel, recordou que o seu pai, o ex-ministro venezuelano da Defesa general Raul Isaías Baduel, faleceu há alguns anos, quando estava detido por motivos políticos".

"Pedimos a mediação do Presidente Lula da silva, porque na Venezuela continuam a criminalizar a dissidência", disse, precisando que umas "2.500 famílias de detidos são constantemente ameaçadas e que os presos políticos são torturados".

Frisou ainda que "há que recordar ao mundo que na Venezuela, continuamos a ser vítimas de violações dos direitos humanos". 

A organização não-governamental (ONG) venezuelana Fórum Penal (FP) indicou hoje que o número de presos políticos no país aumentou para 1.808, o maior deste século, a grande maioria dos quais desde os protestos pós-eleições presidenciais.

 "Registámos e qualificámos o maior número de presos por motivos políticos conhecido na Venezuela, pelo menos no século XXI, e continuamos a receber e a registar detidos", anunciou a ONG na rede social X.

Os dados, atualizados até 09 de setembro, indicam ainda que mais de nove mil pessoas continuam "submetidas arbitrariamente" a restrições à liberdade. Dos 1.808 presos políticos, 1.673 estão detidos desde 29 de julho, início dos protestos pós-eleições presidenciais, adianta a ONG.

De acordo com a FP, entre os detidos estão 1.582 homens e 226 mulheres, 1.651 são civis e 157 militares, incluindo 60 adolescentes.

A ONG precisou ainda que, na última semana, uma pessoa foi libertada e 16 foram detidas e que 150 detidos foram condenados por tribunais e 1.658 aguardam julgamento.

Segundo a FP, desde 2014 até hoje foram detidas 17.577 pessoas por motivos políticos na Venezuela, das quais mais de 14.000 foram libertadas, após terem recebido assistência gratuita daquela ONG.

A Venezuela, país que conta com uma expressiva comunidade de portugueses e de lusodescendentes, realizou eleições presidenciais no passado dia 28 de julho, após as quais o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) atribuiu a vitória ao atual Presidente do país, Nicólas Maduro, com pouco mais de 51% dos votos, enquanto a oposição afirma que o seu candidato, o antigo diplomata Edmundo González Urrutia obteve quase 70% dos votos.

A oposição venezuelana e muitos países denunciaram uma fraude eleitoral e exigiram que sejam apresentadas as atas de votação para uma verificação independente.

Os resultados eleitorais têm sido contestados nas ruas, com manifestações reprimidas pelas forças de segurança, com o registo, segundo as autoridades, de mais de 2.400 detenções, 27 mortos e 192 feridos.