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Sofrimento em Gaza "sem precedentes"

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O secretário-geral da ONU exigiu um cessar-fogo imediato entre Israel e o movimento islamita palestiniano Hamas e disse que "o nível de sofrimento" na Faixa de Gaza "é sem precedentes" no seu mandato.

"Nunca vi tanto nível de morte e destruição como estamos a ver em Gaza nos últimos meses", disse na segunda-feira, numa entrevista à agência de notícias Associated Press, António Guterres, que lidera a ONU desde 2017.

O português disse ser irrealista pensar que Israel poderá aceitar que a ONU desempenhe um papel no futuro de Gaza, quer a administrar o território ou enviar uma força internacional de manutenção da paz.

Ainda assim, Guterres garantiu que as Nações Unidas "estarão disponíveis para apoiar qualquer cessar-fogo" que ponha fim ao conflito, que começou a 07 de outubro, quando o Hamas matou cerca de 1.200 pessoas num ataque surpresa em solo israelita.

O secretário-geral da ONU disse que "uma das hipóteses" que a organização colocou na mesa foi através dos observadores desarmados da Organização de Supervisão de Tréguas das Nações Unidas para o Médio Oriente, criada em 1948.

"É claro que estaremos prontos para fazer tudo o que a comunidade internacional nos pediu", disse Guterres. "A questão é se as partes aceitariam isso e, em particular, se Israel o aceitaria", acrescentou.

Em resposta, o embaixador da Israel junto da ONU, Danny Danon, disse que "é dececionante ver as Nações Unidas defender um cessar-fogo sem mencionar os reféns e sem condenar o Hamas".

Durante o ataque do movimento palestiniano, em outubro, 251 pessoas foram raptadas e levadas para a Faixa de Gaza, de acordo com as autoridades israelitas.

Destas, perto de 100 foram libertadas no final de novembro, durante uma trégua, em troca de prisioneiros palestinianos, e 101 reféns continuam detidos no território palestiniano, 33 dos quais terão morrido, de acordo com o exército de Israel.

"Um cessar-fogo não pode, e não vai, acontecer enquanto os nossos restantes reféns (...) permaneçam em cativeiro em Gaza", disse o embaixador israelita.

"Peço ao Conselho de Segurança da ONU a reunir-se com urgência e condenar o Hamas nos termos mais fortes possíveis e exigir a libertação de todos os 101 reféns em Gaza", acrescentou Danny Danon.

Na mesma entrevista, o secretário-geral das Nações Unidas defendeu que a criação de dois estados não é apenas viável, mas "é a única solução" para o conflito de décadas entre Israel e a Palestina.

"Isto significa que tens cinco milhões de palestinianos a viver lá sem quaisquer direitos num Estado", disse o português. "É possível? Podemos aceitar uma ideia semelhante ao que tínhamos na África do Sul no passado?", questionou.

Guterres referia-se ao sistema 'apartheid' da África do Sul, desde 1948 até ao início da década de 1990, em que a população branca minoritária marginalizou e segregou pessoas de cor, especialmente os negros.

"Não creio que se possa ter dois povos a viver juntos se não estiverem em bases de igualdade (...) e respeito mútuo dos seus direitos", disse Guterres. "Portanto, a solução de dois Estados é, na minha opinião, uma obrigação se quisermos ter paz no Médio Oriente", acrescentou.