Entre dois Mundos…
Entre a utopia e o sensacionalismo a escolha para muitos moderados é mais contra um do que a favor de outro
Vivemos tempos estranhos em que muitas vezes a escolha é entre o mau e o péssimo. Faltam-nos referencias, estadistas, falta empatia e amor. Sobra ódio e divisão, critica e más intenções. Fica difícil tomar posições, dar uma opinião sobre o que quer que seja, assumir as nossas convicções e valores. Não se pode dizer nada, existe uma ditadura das minorias que nos obriga a quase pedir desculpa só por existirmos. Perde-se o conceito de família em troca de uma suposta ideia moderna em que tudo vale mas acima de tudo tentam impor-nos tudo o que é contrário ao que sempre acreditámos. Quem não embarca na onda é hostilizado e rotulado por extremistas reacionários que aparecem de mansinho disfarçados de boas intenções. Isso cria uma tensão enorme na sociedade e divide-a em dois blocos que se digladiam nas redes sociais arrastando toda a gente para a bagunça. Se ousamos dizer alguma coisa somos logo colados a estereótipos e associados a facções. A partir daí vem um rol de acusações, ofensas pessoais que nos tentam enlamear ao ponto de alguns desistirem pelo caminho.
Eu não vou deixar de escrever o que penso, de forma independente, mesmo recebendo quase todas as semanas alguns emails que dizem muito do que nos estamos a tornar enquanto sociedade. Onde me chamam ora de fascista, xenófobo ou homofóbico. Vem isto a propósito da bipolaridade que grassa em vários países, supostamente evoluídos e desenvolvidos. Da falta de opções de qualidade, a inexistência de um pensamento político, de estratégia, onde as bandeiras são os temas que animam as hordas de seguidores, sem o mínimo de bom senso. Olhamos por exemplo para o Brasil e os brasileiros têm que escolher entre o Lula e Bolsonaro. Entre a utopia e o sensacionalismo a escolha para muitos moderados é mais contra um do que a favor de outro. E assim vamos sendo governados, sem eira nem beira e muito menos a possibilidade de projectos a longo prazo que possam significar crescimento para o país.
Como tenho também sobre os Estados Unidos. Trump significa para mim a ridicularização da política, a conivência com atitudes que não podem ser toleradas nos dias que correm e a aceitação de que o país mais poderoso do Mundo possa ser governado por um louco imprevisível que a qualquer momento pode escolher o absurdo e colocar-nos a todos em causa. Podia muito bem ser um sketch dos Gato Fedorento e no entanto é o escolhido por cerca de metade da população americana e o eleito por um partido histórico. Mas do outro lado está Kamala Harris. Uma pessoa de quem não se conhece um pensamento, uma ideia. Alguém que representa o mais profundo do “wokismo”, da divisão cultural, da ideologia de género e da defesa de uma luta de classes entre ricos e pobres. Uma pessoa que se apresenta em público sem conseguir articular uma opinião fundamentada cedendo a uma minoria que se acha intelectualmente mais desenvolvida e que defende uma imposição moral completamente diferente do que temos por certo.
Não acho por isso que seja fácil a escolha. Muitos escrevem por aí que vale qualquer coisa a Donald Trump. Eu não consigo ser assim tão taxativo. Acredito que qualquer um deles é um perigo para a nossa sociedade e representa a decadência dos valores e dos princípios. Nenhum tem capacidade para desenvolver um país nem tão pouco de assumir uma posição de liderança moral num tempo em que voltamos a reviver guerras e conflitos do passado. Não serão casos únicos, testemunharemos este extremar de posições em muitos mais países, basta olhar para França. Veremos onde tudo isto vai dar tendo por certo que a nossa segurança, a paz e a tranquilidade que um dia conhecemos não voltam mais. Pelo menos enquanto andarmos por cá. E isso deve fazer-nos pensar…