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Análise

Responsabilidade, independência e fim dos foguetes

Tudo evolui e há tradições que têm de passar para o campo das lembranças

‘Depois da tempestade vem a bonança’, diz o povo na sua reconhecida sabedoria. Os fogos encontram-se extintos, mas há muito por explicar e a culpa, a existir, não pode morrer solteira. Como em tudo na vida terá de haver consequências por decisões tomadas que terão ou não influenciado o curso e a propagação do fogo. Há muito trabalho a fazer pela comissão técnica independente promovida pelo CDS, que tem de receber luz verde do parlamento. Só um mecanismo de averiguação livre e independente garantirá sucesso nas conclusões. Não basta a versão oficial das autoridades regionais em audições parlamentares ou comissões de inquérito onde, obviamente, vão defender a sua ‘dama’ até à morte, reafirmando que todas as decisões tomadas durante os incêndios foram correctas, oportunas e proporcionais. O rasto de destruição deixado por uns longos 13 dias de queima da floresta tem de ser cabalmente escrutinado, doa a quem doer. E os responsáveis políticos, como pessoas de bem que são, terão de assumir responsabilidades e actuar em conformidade. É assim que funciona em democracia. Chega de palpites, de sobrancerias, de tentar desviar o essencial por ser incómodo e de promoção pessoal em cima da desgraça. É hora de deixar os especialistas independentes trabalharem e da polícia investigar. Houve ou não fogo posto? O que se sabe é que tudo começou com o lançamento de um foguete autorizado na Serra de Água. Já há, pelo menos um arguido constituído, como o DIÁRIO noticiou na passada quinta-feira e a Polícia Judiciária confirmou no dia a seguir. Nada indicia até agora a existência de fogo posto.

A pressa é má conselheira. Chega de precipitações e de garantias falaciosas. Como pode, por exemplo, o presidente do Governo jurar publicamente que não haverá a demissão de nenhum responsável, baseando-se apenas no facto de não ter havido vítimas mortais nem residências ardidas? Faz sentido passar a mensagem de que todos estão de pedra e cal nos seus lugares, mesmo desconhecendo a amplitude e as consequências de tomadas de decisão que podem, por omissão ou precipitação, ter potenciado a queima descontrolada de floresta? A experiência acumulada e o bom-senso aconselham prudência. Em causa poderá estar a credibilidade das instituições, do comando. Exemplos não faltam. Basta pesquisar.

Os 41 mil hectares ardidos desde 2010 merecem reflexão urgente, ponderação sobre os mecanismos de prevenção, reflexão sobre a forma como é feito o combate e a necessidade de intervenção de maior números de meios aéreos.

O que não precisamos em todo este processo de apuramento é de ruído, de narrativas inconsequentes, de promoções pessoais e da imposição de agendas que têm apenas por objectivo retirar dividendos políticos em relação a uma hipotética moção de censura que possa ser apresentada na ALM para derrubar o Governo. É uma forte possibilidade, mas só fará realmente sentido, depois de serem apresentadas as conclusões dos especialistas independentes, realmente independentes.

É que só este ano arderam mais de 5 mil hectares na Região. No continente foram 7 mil…

2.A tradição secular de lançamento de foguetes nas festas tem de terminar. O perigo que representam é superior à alegria que proporcionam. Tudo evolui e há tradições que têm de passar urgentemente para o campo das lembranças. Com as alterações climáticas e a persistência de dias cada vez mais quentes e secos a utilização daqueles artefactos é extremamente perigoso.