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Fogo cruzado

Meus caros amigos leitores, depois de 13 dias intensos marcados por incêndios devastadores que assolaram a Madeira e por um forte “fogo cruzado” entre diferentes entidades, a ilha prepara-se para um momento de reflexão e celebração.

No próximo dia 2 de setembro, a Madeira comemora o 146º aniversário do Comando Regional da Polícia de Segurança Pública, uma data que, neste ano em particular, adquire um significado ainda mais profundo. Este momento não apenas celebra a história e o legado da mais importante força de segurança na Madeira, a PSP, mas também serve como uma oportunidade para homenagear todos os agentes de proteção civil, especialmente os profissionais da PSP, que incansavelmente estiveram no terreno durante esta recente calamidade.

Por questões de agenda ministerial, o aniversário do comando, será solenemente assinalada oportunamente, que contará com a presença de figuras proeminentes do MAI e da DN/PSP, é uma oportunidade para refletirmos sobre a importância desta instituição na vida da nossa região. Mais do que uma simples comemoração, este aniversário convida-nos a reconhecer e a elogiar o trabalho incansável dos profissionais da PSP, particularmente à luz dos recentes acontecimentos que abalaram a nossa ilha.

A solidez da nossa instituição foi evidente na forma como os polícias assu-miram as suas responsabilidades, sem hesitação ou falhas, assegurando que todas as operações de combate ao incêndio, evacuação e proteção da população fossem realizadas com a máxima eficiência. Este é um testemu-nho da preparação contínua e do espírito de cooperação que caracteriza a nossa organização.

Ponto prévio. Durante os incêndios eu, que estava de férias em Porto Santo durante este período crítico, pude constatar em primeira mão a força e a resiliência de todos os polícias em serviço. Apesar da minha ausência, bem como de outros profissionais, os meus camaradas não deixaram de exercer as suas funções com dedicação e eficiência, demonstrando que a nossa instituição está plenamente preparada para enfrentar qualquer cenário, mesmo os mais desafiadores.

O facto de cerca de 20% do efetivo do comando ter estado de férias du-rante este período não alterou em nada a capacidade da instituição de funcionar ao mais alto nível. Este é um ponto crucial que merece ser des-tacado: a nossa preparação não depende de indivíduos, mas sim da força coletiva da corporação. Cada membro da nossa organização está prepa-rado para atuar com competência, independentemente das circunstâncias ou das ausências pontuais.

Mas agora vamos ao segundo ponto. Na Madeira, está cada vez mais evidente que muitos se consideram especialistas em incêndios e proteção civil, mesmo sem terem as competências necessárias para tal. É só surgir um incêndio ou uma emergência, e imediatamente somos inundados por uma enxurrada de opiniões nas redes sociais e nos meios de comunicação social.

No entanto, essa postura é não só frustrante, mas também perigosa. A proteção civil é uma área altamente especializada que requer conhecimento técnico, experiência prática e uma compreensão profunda das dinâmicas de cada situação. A realidade é que, em momentos de crise, o que mais precisamos é de clareza e competência, não de ruído e opiniões infundadas.

Como terceiro ponto. Não podem os jornalistas, os políticos, nem ninguém pedir a cabeça de quem manda em plena crise. Pedir a cabeça de quem está no comando em plena crise não é apenas imprudente, mas também pode ser altamente prejudicial. Quando uma região enfrenta um desastre natural, como os incêndios, as lideranças estão sob uma pressão enorme para tomar decisões rápidas e eficazes. É nesse momento que mais precisam do apoio e da confiança de todos. Questionar a competência das autoridades ou pedir demissões durante a crise só serve para enfraquecer a cadeia de comando e semear a desconfiança, o que pode comprometer a eficácia das operações de socorro.

Com o fim do fogo, surge a necessidade de responsabilização. Não se trata de apontar o dedo, mas de entender onde falhámos para que possamos corrigir os erros do passado. No entanto, o problema vai além das autoridades; a sociedade civil também deve ser chamada a participar ativamente na prevenção, são as chaves para proteger a nossa ilha e as futuras gerações. É um compromisso que todos, desde o governo até ao cidadão comum, devem assumir.