“Não é nada indicado destruir uma das praças mais bonitas da cidade do Funchal”
Quem o diz é o professor e historiador, Emanuel Gaspar, autor da primeira petição pública 'Contra a construção do estacionamento sob a Praça do Município', lançada há dois anos
“Não é nada indicado destruir uma das praças mais bonitas da cidade do Funchal”, declarou, esta sexta-feira, o professor e historiador, Emanuel Gaspar, criticando a proposta da Câmara Municipal do Funchal (CMF) de construir um estacionamento subterrâneo na Praça do Município.
O docente foi o autor da primeira petição pública 'Contra a construção do estacionamento sob a Praça do Município', lançada há dois anos.
Não faz nenhum sentido construir aqui o parque que a Câmara pretende”. Emanuel Gaspar
Numa conferência de imprensa organizada pelo Juntos pelo Povo (JPP), na Praça do Município, explicou as consequências nefastas se o projecto não for travado: “Estamos a falar de um lugar extremamente sensível, com dois edifícios classificados como monumentos nacionais, o Museu de Arte Sacra (antigo Paço Episcopal) e o complexo do Colégio dos Jesuítas, portanto é um lugar sensível, que terá trepidação constante e obviamente que todos estes edifícios vão sofrer não apenas do ponto de vista arquitetónico mas também as pinturas e azulejos.”
Emanuel Gaspar refere que aquele espaço nobre da cidade do Funchal foi projectado por dois grandes arquictetos portugueses, Francisco Caldeira Cabral e Raul Lino, e não tem dúvidas de que o avanço da obra iria “destruir toda a linguagem original da Praça, mesmo depois desta ser reposta”.
Quando por toda a Europa o incentivo à utilização dos transportes públicos e a redução da circulação automóvel nos centros das cidades mobiliza cidadãos e organizações ambientalistas, a Câmara do Funchal parece querer avançar em contraciclo, facto que também mereceu reparos do historiador: “Trazer carros para o centro da cidade, não é o ideal”, recomenda e acrescenta: “O ideal é retirá-los das cidades como faz qualquer cidade desenvolvida da Europa.”
Sobre as declarações da presidente da autarquia, Cristina Pedra, que considerou a polémica “uma falsa questão”, Emanuel Gaspar interroga-se: “Se não têm intenção de construir, então por que razão gastam dinheiro dos contribuintes em estudos para uma coisa que não pretendem fazer?”
O historiador nota que a CMF tem pareceres internos que apontam fragilidades e constrangimentos à construção do estacionamento, e diz não entender por que razão a autarquia insiste no erro.
“Há outros lugares na cidade onde podem construir novos parques de estacionamento, não aqui, no centro histórico, um ponto sensível e nevrálgico da cidade”, concluiu.