Área de lazer no Montado da Esperança é um projecto antigo?
Decorreu, no passado fim-de-semana, mais uma edição da Festa da Alegria, que acontece nos primeiros dias de Agosto, no Montado da Esperança, em São Roque.
Na ocasião, o presidente da Junta de Freguesia de São Roque anunciou a requalificação da zona onde tem lugar a festa e a criação de um parque de merendas.
As reacções à ‘novidade’ não tardaram, com a maioria a se mostrar de acordo com essa intervenção. Num dos comentários a uma das notícias sobre o tema, um internauta notava que “há que anos falam nisto”. Será verdade que a anunciada intervenção não é nova? É isso que vamos procurar validar nesta rubrica.
O Montado da Esperança, em São Roque, é um espaço verde que, nos últimos anos, tem servido de palco para a Festa da Alegria, uma festividade religiosa cuja génese está associada à capela em honra de Nossa Senhora da Alegria, um templo integrado numa quinta privada existente na parte alta da freguesia, que era motivo de grandes romarias, animação e fogo-de-artifício.
Em 2005, praticamente 20 anos sem se realizar, a Junta local, presidida por Rui Nunes, resolveu retomar a tradição, juntando, por assim dizer, as Festas da Alegria e da Esperança, esta última ainda mais antiga, associada à Capela da Esperança, da qual apenas restam as ruínas e cuja envolvência foi palco para as primeiras edições desta renovada festividade.
Os terrenos onde decorrem as celebrações são, desde então, públicos, depois de terem sido adquiridos pelo Governo Regional a congregações religiosas, nomeadamente as Irmãs Hospitaleiras do Sagrado Coração de Jesus e a Província Portuguesa da Congregação de São José de Cluny, com o objectivo de integrarem o chamado ‘Tampão Verde’, uma zona verde projectada em 2001, que deveria envolver as cabeceiras da cidade do Funchal, como estratégia do então secretário regional do Ambiente e Recursos Naturais, Manuel António Correia, para prevenção dos incêndios florestais.
Foi nesse âmbito que ali decorreram várias acções de voluntariado ambiental, envolvendo as escolas da freguesia, associadas aos projectos de limpeza de infestantes e recuperação do coberto vegetal indígena. A par disso, era objectivo desde sempre apontado a transformação de parte dos terrenos em áreas de lazer para a população, que tradicionalmente já usava aquele espaço sobretudo em alguns feriados assinalados, como o 25 de Abril ou o 1.º de Maio.
Em 2005, Manuel António Correia dava conta da intenção de recuperar a floresta Laurissilva do Montado da Esperança, propriedade com cerca de 300 mil metros (de um total de 18 hectares), transformando-o num espaço mais natural e colocando-o ao serviço da população local, mas também ao serviço do turismo, a que designou de “Parque da Esperança”.
Dois anos depois, em 2007, Rui Nunes, ainda na qualidade de presidente da Junta de Freguesia de São Roque e principal dinamizador do retomar da festa, dizia pretender explorar todo o potencial daquele espaço. “Dentro de pouco tempo. o Montado da Esperança terá condições para ser um pólo turístico na área cultural, ambiental e de lazer e desporto”, dizia o autarca ao DIÁRIO.
A continuidade da Festa da Alegria, com uma crescente afluência, tem levado à melhoria do recinto, com a festa a mudar-se do ‘adro’ da Capela da Esperança para a o caminho florestal numa cota um pouco inferior, onde são montadas as barracas de comes e bebes. O palco montando a jusante dá outra dimensão à animação.
Esta celebração, por diversas vezes, tem integrado a agenda de políticos, de todos os partidos, e do próprio Executivo madeirense. Em 2017, em vésperas de eleições autárquicas, Paulo Cafôfo, presidente da Câmara do Funchal e recandidato ao cargo, Rubina Leal, candidata do PSD, e Rui Barreto, que concorria pelo CDS, foram ao Montado da Esperança, tendo, todos eles mostrando vontade, em caso de vitória, em avançar com a transformação daquele espaço numa zona de lazer. Na altura, Pedro Gomes, já como presidente da Junta, aproveitou para reivindicar a recuperação da Capela da Esperança e a criação de um núcleo museológico, anunciando a intenção de elaborar um projecto para candidatar a fundos europeus, através do Madeira2020.
Os anos passaram, os incêndios devastaram o espaço, sobretudo em Agosto de 2016, e outras tantas promessas foram feitas, mas que, por enquanto, não foram além da recuperação do coberto vegetal das serras de São Roque, onde se inclui, naturalmente a zona do Montado da Esperança, que várias visitas recebeu de Miguel Albuquerque e da então secretária regional de Ambiente, Recursos Naturais e Alterações Climáticas, Susana Prada. Foi, entretanto, ali criado um Jardim de Plantas Endémicas, que todos os anos é alvo de recuperação por altura da festa.
E, no passado fim-de-semana, Pedro Gomes voltou a apontar uma intervenção para aquele Montado, desta feita, a concretização da várias vezes anunciada área de lazer, com parque de merendas.
O presidente da Junta de Freguesia de São Roque disse, aos microfones da RTP Madeira, que aquela zona “vai ser requalificada pelo Instituto de Florestas [e Conservação da Natureza], com a colaboração da Junta de Freguesia [de São Roque] e da Câmara Municipal [do Funchal]. Um investimento de ronda os 500 mil euros. Vamos ter um parque de merendas, vai ser tudo desmatado, tudo recuperado, para podermos contar a história do Montado da Esperança. Portanto, vamos ter um parque, quase que um mini parque ecológico, que fica mais próximo do Funchal e vai servir toda a cidade”, rematou o autarca, notando que a intervenção vai arrancar ainda este ano, contando com dinheiros do PRODERAM e deverá estar concluída em Dezembro de 2025.
Face aos factos aqui referidos, podemos concluir que este projecto agora anunciado não é propriamente novo, pelo menos na sua essência, contando quase 20 anos, com as naturais adaptações aos novos tempos. Consideramos, por isso, verdadeira a afirmação do internauta que refere que “há que anos falam nisto”.