Yahya Sinwar, novo líder do Hamas, radical e pragmático
Yahya Sinwar, nomeado hoje novo líder político do Hamas, é visto como um ativista radical e pragmático, considerado o mentor do ataque de 07 de outubro contra Israel e a "cara do diabo" pelas forças israelitas.
O anúncio do Hamas surge uma semana após a morte, em Teerão, do seu antecessor, Ismail Haniyeh.
Sinwar tem passado toda a sua carreira na 'sombra', incluindo em prisões israelitas, onde esteve 23 anos, e depois no aparelho de segurança do movimento islamita palestiniano, onde foi responsável pelas purgas.
Líder desde 2017 do movimento em Gaza, foi, aos 61 anos, o arquiteto do 07 de outubro: nesse dia, centenas de comandos invadiram 'kibutz', bases militares e um festival em Israel, que viveu o pior ataque contra civis desde a sua criação em 1948.
O resultado do ataque sem precedente do Hamas foram 1.198 mortos e 251 pessoas feitas reféns, segundo as autoridades israelitas.
"A estratégia é dele, foi ele quem montou a operação" provavelmente durante um ou dois anos, explicou à agência France-Presse (AFP) Leïla Seurat, investigadora do Centro Árabe de Investigação e Estudos Políticos (CAREP), em Paris.
O líder do Hamas, de cabelo branco, mas com sobrancelhas negras e fartas, "impôs o seu ritmo para mudar o equilíbrio de poder no terreno e apanhou todos de surpresa", defendeu a investigadora.
O homem que é agora "a cara do diabo", nas palavras do exército israelita, não aparece em público desde outubro.
"É o homem de segurança por excelência" que, com um "carisma de líder", toma "decisões com a maior das calmas", garantiu à AFP Abou Abdallah, antigo colega detido do Hamas, em 2017.
Em 1987, a primeira Intifada, a revolta contra a ocupação israelita, eclodiu num campo de refugiados no norte da Faixa de Gaza. O jovem, nascido em Khan Yunis, um campo no sul do território, juntou-se ao recém-fundado Hamas.
Aos 25 anos, já dirigia a Jihad and Preaching Organization, a unidade de inteligência do Hamas que pune os 'colaboradores', palestinianos punidos por informações junto do inimigo israelita.
Em 1988, fundou o Majd, o serviço de segurança interna do Hamas.
Encarcerado em 1989, consolidou-se como líder dos presos. Condenado várias vezes a prisão perpétua, foi libertado em 2011 com mil detidos libertados por Israel, em troca do soldado Gilad Shalit, refém do Hamas durante cinco anos.
Yahya Sinwar viu Israel eliminar os seus mentores, nomeadamente o xeque Ahmed Yassine, fundador do Hamas, e Salah Chehadé, fundador das brigadas Ezzedine al-Qassam, o braço armado do movimento, do qual é considerado o braço direito.
Colocado na lista dos EUA de "terroristas internacionais", foi alvo de múltiplas tentativas de assassinato.
Eleito líder do Hamas em Gaza em 2017, conduziu uma estratégia que é "radical no plano militar e pragmática na política", explicou ainda Seurat.
A comunicação social israelita publicou trechos dos seus interrogatórios, em que descreve ter raptado um traidor, levado para o cemitério de Khan Younès: "Coloquei-o numa cova e estrangulei-o com um keffiyeh [lenço palestiniano]."
A nível político, defende uma liderança palestiniana unida para todos os territórios ocupados: a Faixa de Gaza, controlada pelo Hamas, a Cisjordânia, administrada pela Fatah de Mahmoud Abbas, e Jerusalém Oriental.
"Fez saber que puniria quem tentasse impedir a reconciliação com a Fatah", recordou o Conselho Europeu dos Negócios Estrangeiros (ECFR).
Após a sua eleição à frente do Hamas em Gaza, o movimento aceitou o princípio de um Estado palestiniano dentro das fronteiras de 1967, mas manteve como objetivo final a "libertação" de todo o território da Palestina em 1948, incluindo o atual território israelita.
A todo o custo, pretende forçar Israel e o mundo a interessarem-se pelo destino dos palestinianos.
Após o ataque de outubro, Israel declarou uma guerra na Faixa de Gaza para "erradicar" o Hamas. A resposta israelita já causou quase 40.000 mortes, segundo o Ministério da Saúde do enclave, controlado pelo Hamas.