DNOTICIAS.PT
Crónicas

Venezuela

1. A prática de pagar fortunas a “influencers” de terceira categoria e figuras internacionais que ninguém conhece, apresentando-os como se fossem celebridades de grande renome, é um reflexo claro do paroquialismo patético da promoção e do “marketing”. Esta abordagem é uma tentativa desesperada de criar uma ilusão de importância e relevância onde não há nenhuma. É como tentar cobrir uma porcaria qualquer com purpurina e vender como se fosse ouro.

A Associação de Promoção da Madeira é um exemplo perfeito desta coisa sem sentido ao tentarem impingir estas figuras irrelevantes e achar que enganam todas as pessoas. Pagam quantias obscenas a estes “famosos” para aparecerem em eventos, tirarem umas selfies e fazerem umas declarações nas redes sociais. Como se isso tivesse algum impacto real. É como polir um monte de lixo e tentar vendê-lo como a oitava maravilha do mundo.

Esta estratégia revela um problema sério: uma mentalidade limitada, fechada numa bolha, que acredita que qualquer coisa que faça barulho localmente é automaticamente importante globalmente. O que se vê é um investimento na aparência, em vez da substância. É como colocar batom num porco e chamá-lo Miss Universo.

Estão tão desligados da realidade que acreditam mesmo que esta abordagem funciona. Pensam que as pessoas não vão perceber a diferença entre um verdadeiro influenciador e uma figura irrelevante com seguidores comprados. É uma ilusão de grandeza. Tentam convencer de que o nosso quintal é o mais bonito de todos, mas nem se dão ao trabalho de olhar para fora da cerca.

No final, estas estratégias levam a uma perda de credibilidade. Os madeirenses e os turistas não são estúpidos. As pessoas percebem quando estão a ser enganadas. Disse Abraham Lincoln: “Pode-se enganar a todos por algum tempo; pode-se enganar alguns por todo o tempo; mas não se pode enganar a todos todo o tempo.” Depois disto, ninguém leva a marca ou o evento a sério e é um desperdício de dinheiro colossal. Podiam investir em algo realmente significativo, mas preferem gastar uma fortuna nestas figuras sem relevância.

Isto resulta também como uma forma de isolacionismo. Criam uma bolha sem importância para consumo interno, mantendo a comunidade estagnada, presa a tradições e a ideias sem sentido.

A solução é simples: investir em autenticidade. Em vez de correr atrás de figuras desconhecidas e sem substância, procurem influenciadores que realmente tenham algo a dizer e que tenham verdadeiro reconhecimento público. Olhem para as tendências globais, mas façam-no de uma maneira que tenha sentido. Valorizar o conteúdo e a relevância é crucial. Quem aposta na qualidade e, na verdade, constrói uma reputação sólida e duradoura. E não é preciso batom para isso.

2. Nicolás Maduro, o contestado presidente da Venezuela, encontra-se num ponto crucial da sua permanência no poder. Ao perder as eleições e ao tentar, fraudulentamente, demonstrar que as ganhou, montou um cenário apoiado num contexto em que a perda de poder não é apenas uma questão de mudança política, mas de sobrevivência pessoal.

Marcel Dirsus, autor de “How Tyrants Fall: And How Nations Survive”, obra publicada já este ano sobre a queda de tiranos, oferece-nos uma análise penetrante sobre a vulnerabilidade de regimes autocráticos como o de Maduro. Segundo Dirsus, o presidente venezuelano compreende profundamente os riscos associados a uma potencial queda. Os anos de pilhagem dos recursos nacionais e a perseguição aos opositores políticos criaram um ambiente onde a perda do controlo pode resultar em prisão ou algo pior para Maduro.

A preservação do poder torna-se, assim, uma missão desesperada. Maduro está disposto a recorrer a qualquer meio necessário para evitar a sua queda: adulterar resultados eleitorais, torturar opositores ou mesmo abrir fogo sobre manifestantes desarmados. Este comportamento é ditado pelo medo das consequências que adviriam da sua deposição.

Contudo, Dirsus destaca que a ameaça mais imediata para Maduro não vem das ruas, mas de dentro do próprio regime. Os verdadeiros perigos residem nos corredores do poder, entre os generais e altos funcionários que, apesar de aparentarem lealdade, podem facilmente virar a mesa. São estes “insiders” do regime possuem a chave para a continuidade ou o colapso do governo.

A questão premente, portanto, é a posição dos militares, da polícia e dos serviços de inteligência — os homens armados cuja fidelidade é essencial para a estabilidade da autocracia vigente. Os ditadores, conscientes desta dinâmica, reestruturam frequentemente as suas forças de segurança para dificultar a organização de um golpe. Veja-se o que tem acontecido amiúde na Rússia. Dividindo as forças, equilibrando diferentes facções, colocando-as umas contra as outras, o ditador procurará criar um sistema onde qualquer tentativa de remoção enfrente a ameaça de uma força leal.

Esta estratégia de divisão e controle, contudo, não é infalível. Em momentos como este, de protestos em massa, os líderes autoritários são confrontados com decisões críticas: ordenar o uso da força letal ou não. O dilema reside não apenas no potencial de uma reação adversa da população, mas na possibilidade catastrófica de os próprios soldados recusarem seguir ordens ou, pior ainda, mudarem de lado. O que já se vai vendo.

Os sinais de descontentamento entre as forças de segurança venezuelanas são, portanto, indicadores cruciais a observar. O possível sucesso do regime é determinante para a lealdade dos militares e das polícias. A falta de apoio internacional influenciará também esta balança, sustentando a crença na durabilidade do regime.

A capacidade de Maduro para manter o poder está intimamente ligada à percepção e realidade da sua força. A desintegração das alianças internas e a quebra da confiança nas forças de segurança são os prenúncios mais temidos por qualquer tirano. Enquanto o futuro do regime venezuelano permanece incerto, os olhos estão postos nos bastidores do poder, onde se desenrolam as verdadeiras batalhas pelo controlo do país.

3. A posição do Partido Comunista Português face ao regime de Nicolás Maduro na Venezuela, suscita perplexidade e indignação. Num cenário onde os direitos humanos são constantemente violados e a democracia está suprimida, a defesa do PCP a este governo totalitário é vergonhosa. Relatórios de organizações internacionais como a Human Rights Watch e a Amnistia Internacional documentam uma série de abusos graves. Estes incluem prisões arbitrárias, tortura, repressão violenta a protestos, censura à imprensa e perseguição a opositores políticos. A cada uma destas denúncias, o PCP responde com uma complacência que desafia a lógica e a moralidade.

A crise humanitária na Venezuela, exacerbada por uma escassez severa de alimentos, medicamentos e outros bens essenciais, é uma consequência directa das políticas desastrosas do governo de Maduro. Este cenário tem forçado milhões de venezuelanos a abandonar o seu país, em busca de condições de vida dignas, gerando uma crise migratória que afeta toda a região. Em vez de reconhecer a responsabilidade de Maduro por esta situação caótica, o PCP continua a apoiar cegamente o seu regime, num gesto que compromete qualquer noção de solidariedade com os valores democráticos e os direitos humanos.

O apoio do PCP a um regime como este, que tem um historial tão negro de práticas antidemocráticas e repressivas, é não só vergonhoso como também revela uma desconcertante falta de compromisso com a democracia.

A persistente indiferença do PCP face ao sofrimento dos venezuelanos é uma atitude de desprezo pela dignidade humana e uma traição aos princípios democráticos que deveriam nortear qualquer partido político digno desse nome.

O povo venezuelano merece, e o mundo exige, nada menos que isso.

4. A resistência a uma ditadura não é apenas uma escolha, mas uma necessidade imperiosa para qualquer povo. Num regime onde a liberdade é sufocada e a justiça é manipulada, cada acto de resistência é uma afirmação de dignidade humana. É através da coragem de se opor à opressão que pavimentamos o caminho para uma sociedade onde a liberdade, a justiça e a democracia possam florescer plenamente.