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Argentina prepara cimeira com países latino-americanos que condenam Maduro

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A Argentina está a organizar uma cimeira em Buenos Aires com líderes latino-americanos que não reconhecem a vitória de Nicolás Maduro, num movimento que visa consolidar a liderança regional do Presidente Javier Milei, em oposição à postura do Brasil.

"Essa é uma iniciativa que, efetivamente, está a circular. É questão de coincidir e de coordenar agendas dos chefes de Estado, mas, sim, efetivamente, se está a trabalhar nisso. O assunto está sobre a mesa", admitiu o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros da Argentina, Leopoldo Zahores, em declarações aos jornalistas durante o protesto contra Maduro que reuniu cerca de cinco mil dos 250 mil venezuelanos emigrados na Argentina.

O protesto "Venezuela Livre", parte da jornada mundial contra a fraude eleitoral na Venezuela, aconteceu no Centro de Buenos Aires, onde os venezuelanos agradeceram ao governo argentino pela iniciativa de condenar o resultado das eleições de 28 de julho.

"Temos um presidente com a convicção de defender o Estado de direito, a Democracia, as liberdades individuais e os direitos humanos. Esperemos, em breve, voltar a ver a Venezuela livre e democrática", afirmou Zahores aos manifestantes.

O Presidente argentino, Javier Milei, foi o primeiro líder da América Latina a denunciar a fraude eleitoral na Venezuela ainda na noite de domingo passado. Como consequência, foi também foi o primeiro a não reconhecer a vitória de Maduro.

Férreo crítico do regime de Nicolás Maduro, Milei procura tornar-se o referencial na América Latina do grupo de países que se opõem a Maduro, em contraposição à postura do Presidente brasileiro, Lula da Silva, que, historicamente, manteve uma aliança com o regime venezuelano. O governo brasileiro tem-se limitado a pedir a publicação detalhada das atas de votação.

"Claramente, Milei procura liderar a oposição à ditadura de Maduro e à posição contemplativa de Lula que, para os olhos do governo argentino, é uma estratégia funcional para a continuidade de Maduro no poder", compara à Lusa o analista argentino de política internacional, Fabián Calle.

A cimeira que Milei tenta organizar em Buenos Aires aponta aos países que, na quarta-feira, condenaram a fraude eleitoral na Venezuela, durante a reunião do Conselho Permanente da Organização dos Estados Americanos (OEA) em Washington.

Além de Estados Unidos e Canadá, na América do Norte, votaram a favor de condenar a Venezuela os governos de Chile, Costa Rica, Equador, El Salvador, Guatemala, Guiana, Haiti, Jamaica, Panamá, Paraguai, Peru, República Dominicana, Suriname, Uruguai e a própria Argentina. Brasil e Colômbia abstiveram-se e o México ficou ausente.

Na segunda-feira, Nicolás Maduro expulsou os diplomatas de sete países latino-americanos, dando-lhes 72 horas para abandonarem a Venezuela. Foram acusados de "intromissão" e de "desconhecerem os resultados eleitorais" Argentina, Chile, Costa Rica, Peru, Panamá, República Dominicana e Uruguai.

Um dos objetivos de Milei é criar um bloco regional que coordene sanções conjuntas contra o regime de Nicolás Maduro.

Na quinta-feira, o Governo dos Estados Unidos reconheceu a vitória do opositor Edmundo González na eleição presidencial venezuelana.

No dia seguinte, quatro países latino-americanos seguiram essa iniciativa: Uruguai, Costa Rica, Equador e Panamá somaram-se ao Peru, o primeiro país a reconhecer Edmundo González como Presidente eleito.

A ministra argentina dos Negócios Estrangeiros, Diana Mondino, chegou a publicar que "sem margem para dúvida, o legítimo ganhador é o Presidente eleito, Edmundo González".

No entanto, horas depois, o próprio MNE argentino desmentiu a sua ministra, afirmando que "a Argentina ainda não se pronuncia de forma definitiva". O motivo para o desencontro é a segurança dos seis asilados políticos venezuelanos, refugiados na Embaixada da Argentina em Caracas desde março.

O Governo argentino entende que, se reconhecer agora Edmundo González, o regime de Maduro pode aplicar represálias contra os asilados, integrantes da equipa de campanha da líder opositora María Corina Machado, que ficaram sob a custódia do Brasil, depois que os diplomatas argentinos tivessem sido obrigados a abandonar a Venezuela na quinta-feira.