O turismo, o alojamento local, a esquerda e a inveja (II)
A capacidade de alojamento (n.º de camas) em alojamento local na RAM representa apenas de 13.9% do total, ou seja 86% das camas estão em hotéis, apartamentos turísticos, aldeamentos turísticos, etc. No entanto, aparentemente se está mal no turismo a culpa é destes estabelecimentos AL que representam 13.9% das camas, se não vejamos:
- Se os turistas são excessivos e gastam pouco, a culpa é do AL que só recebe o turista “pelintra”, sim pois claro, basta omitirmos o facto de que as tarifas dos AL são equivalentes aos dos hotéis, e que tal como existem hotéis para todas as carteiras, existem AL´s para todas as carteiras.
- Se os turismo aparenta ter menos qualidade e menos civismo, a culpa é do AL, pois claro, basta desmentir que na realidade o cliente do AL muitas vezes procura esta opção por ser diferenciada, de alta qualidade, em ambiente rural, com integração com as comunidades locais, tendo em vista conhecer mais profundamente os nossos hábitos e tradições e por ser mais respeitadora do ambiente.
- Se não há casas para alugar na cidade, a culpa é dos AL, então vamos lá de forma cega, boicotar os AL, não interessa nada diferenciar se está na Rua do Carmo, ou nas zonas altas da Falca na Boaventura a gerar a única fonte de riqueza e o emprego que permite a fixação das populações rurais que lá vivem e a dinamização da economia local. Já agora se for uma cadeia hoteleira internacional a comprar um quarteirão inteiro no centro da cidade para transformar num hotel, como temos visto várias vezes, isso já não é problema nenhum, isso não tem qualquer impacto negativo, e ao contrário do AL que gera dividendos que ficam na Região, esses sim são bons porque mandam os seus dividendos para a casa mãe em Espanha, ou outro qualquer país estrangeiro.
- Se há degradação das zonas de montanha e nos PR´s a culpa e dos AL, sim porque devem ser eles que mandam os rebanhos com várias dezenas de turistas em viagens “organizadas” todos os dias e se for preciso várias vezes por dia para esses locais; os cruzeiros que mandam autocarros inteiros não têm nada a ver com isso, pois claro;
- O massacrado AL, pasme-se, até é culpado pelo excesso de algas no mar, sim pois claro, estamos todos ironicamente de acordo que entre a Pontinha e o Lido, os elevados índices de qualidade urbanística e ambiental, (nomeadamente qualidade do ar e das aguas balneares) só é possível porque nesta zonas proliferam os hotéis, enquanto que por exemplo no Seixal ou no Jardim do Mar ou noutra qualquer zona com elevado número de AL´s assiste-se a uma degradação total e absoluta com o mar abjeto e cheio de algas.
Sejamos honestos nesta discussão, e tenhamos a capacidade de reconhecer que o AL, constitui uma forma de empreendedorismo e dinamização económica, que permitiu a muitas famílias o desafogo financeiro que de outra forma o Estado ou a Região demorariam décadas a providenciar, que qualquer medida para a sua limitação ou restrição terá impacto ao nível da economia local, especialmente nas zonas rurais, (quantas lojas, supermercados, quantos empregos, quantos restaurantes, quantas empresas de atividades turística, de transporte, etc, irão fechar?).
As políticas de esquerda sobre os AL e a Inveja
Sob o pretexto de falta de habitação nas cidades, bora lá restringir essa forma de empreendedorismo e emancipação financeira dos indivíduos e das famílias, porque para a esquerda é muito mais interessante a subsidiodependência que “compra” votos. Vemos alguém falar seriamente e com estratégia de políticas de fomento da habitação? Vemos o Estado empenhado na construção de habitação a custos controladas para as famílias? Isso não, mais vale passar o fardo para os privados, para aqueles que ardilosamente enganaram o povo e que conseguiram emergir do mar de burocracias taxas e impostos, e contra tudo o que aceitável construíram ou compraram uma segunda habitação. E aí surge a pérola em forma de pacote, que permite ao Estado “requisitar” a segunda casa para alugar a quem quiser. Se tem 2 carros ou 2 casas, tem que se por a pau, nunca se sabe o que se segue, e os manuais da URSS estão cheios de medidas inspiradoras para alguns.
- Vivi muito anos na Alemanha e espantei-me com o nível de inveja com requintes de malvadez, a vigilância dos vizinhos e a delação quer seja aos administradores de condomínios, ou as autoridades municipais ou policiais, é de fato um nível acima da nossa, mas nós portugueses não estamos muito atrás.
- O PS sabia que remetendo para os condóminos as decisões sobre os AL estaria boicotando os mesmos, especialmente ao considerar que basta um condómino para boicotar um processo novo. E todos conhecemos, em todos os edifícios, o tal vizinho invejoso, que não quer fazer, mas também não quer que ninguém faça.
- Aos que propalam que Barcelona vai fechar os AL, tenham em atenção que se trata de uma proposta do governo local de esquerda, (também há notícia que o PSOE quer expropriar tudo o que esta junto à orla costeira, sejam hotéis, apartamentos, restaurantes, etc), medida que esta já condenada a esbarrar no supremo tribunal espanhol e cujo desfecho imprevisível teria que ter em atenção a quem vai indemnizar as empresas lesadas, quem vai indemnizar os milhares de trabalhadores visados, porque as empresas de AL são empresas como as outras, e se é inconcebível o Estado mandar fechar os hotéis ou os cabeleireiros, ou o que seja de uma cidade inteira sem os indemnizar, o mesmo acontece com as empresas AL, sob pena de ocorrer uma chuva de processos no TEDH.
Basta ter um dedo de testa para perceber que, apesar de haver sempre o reverso da medalha o AL, especialmente o realizado em zonas rurais é a forma mais equilibrada de alojamento turístico, do ponto de vista ambiental, social e económico. Manuel
Ramiro Pereira