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Harris vê país pronto para "virar página" de Trump e terá classe média como prioridade

Foto Julia Nikhinson / POOL / AFP
Foto Julia Nikhinson / POOL / AFP

A candidata presidencial democrata, Kamala Harris, afirmou que os EUA estão prontos para "virar a página" de Donald Trump e garantiu que "apoiar e fortalecer a classe média" será a sua prioridade.

Na quinta-feira, naquela que foi a primeira entrevista desde que se tornou candidata, concedida à CNN internacional, Kamala Harris acusou o adversário republicano e ex-Presidente, Donald Trump, de promover uma agenda que visa minar "o caráter e a força" dos norte-americanos e "dividir a nação".

"Penso que as pessoas estão prontas para virar a página", declarou Harris, na Geórgia, ao lado de Tim Walz, o governador de Minnesota e candidato a vice-presidente dos Estados Unidos, na primeira entrevista conjunta de ambos desde que se tornaram os nomeados democratas às presidenciais.

Questionada sobre qual seria a sua prioridade para o primeiro dia na Casa Branca, caso seja eleita, a atual vice-presidente focou-se na economia e em fazer a classe média prosperar através da implementação de várias propostas políticas, como reduzir os preços dos produtos alimentares, investir em pequenas empresas e na "família norte-americana, e tornar mais acessível o acesso à habitação.

Harris aproveitou para elogiar o progresso económico alcançado sob o atual Governo de Joe Biden, que sucedeu a Trump e que chegou à Casa Branca num momento em que a pandemia de covid-19 avançava pelo país.

No entanto, Harris reconheceu que "os preços, em particular dos alimentos, ainda estão muito altos", uma situação que levou uma grande parte dos norte-americanos a mostrar descontentamento.

Na entrevista, Harris, que se tornou a primeira mulher afro-indiana-americana a ser nomeada por um dos dois grandes partidos dos EUA às presidenciais, mostrou-se aberta a ter um republicano na administração caso vença as eleições de 05 de novembro.

"Acho que seria benéfico para o público americano ter um membro do meu gabinete que fosse republicano", disse, acrescentando que considera "importante que, quando algumas das maiores decisões forem tomadas, haja pessoas na mesa com pontos de vista e experiências diferentes".

Sobre a imigração, um dos assuntos mais utilizados pela campanha republicada para atacar Harris, a democrata, de 59 anos, admitiu que deve haver consequências para quem entre ilegalmente em território norte-americano.

"Temos leis que devem ser seguidas e aplicadas para lidar com pessoas que cruzam a nossa fronteira ilegalmente, e deve haver consequências. E sejamos claros, nesta corrida, sou a única pessoa que processou organizações criminosas transnacionais que traficam armas, drogas e seres humanos", advogou a ex-procuradora. 

"Sou a única pessoa nesta corrida que realmente serviu um estado fronteiriço como procuradora-geral para fazer cumprir as nossas leis, e eu faria cumprir as nossas leis como Presidente daqui para a frente. Reconheço o problema", assumiu.

No tópico de política ambiental, a vice-presidente garantiu que sempre viu as alterações climáticas como uma realidade e uma questão urgente, frisando que os Estados Unidos devem cumprir os objetivos para as emissões de gases com efeito de estufa.

Confrontada pela jornalista Dana Bash com afirmações insultuosas feitas por Trump, de que Harris "se tornou negra", a vice-presidente minimizou-as: "O mesmo velho e cansado manual. Próxima pergunta, por favor".

Um dos temas mais sensíveis na campanha democrata é o forte apoio a Israel na guerra na Faixa de Gaza, com milhares de norte-americanos a acusarem o Governo de Biden e Harris de cumplicidade no genocídio do povo palestiniano.

Na entrevista, a candidata reforçou o apoio ao direito de Israel de se defender, mas reconheceu o sofrimento dos palestinianos, repetindo que um cessar-fogo deve ser alcançado.

Dana Bash quis também saber como é que Biden havia comunicado a Harris que iria desistir da reeleição, com a vice-presidente a contar que foi por telefone e que o atual Presidente ofereceu imediatamente apoio à sua candidatura.

 "Eu sirvo com o Presidente Biden há quase quatro anos. E eu digo: é uma das maiores honras da minha carreira, de verdade. Ele importa-se profundamente com o povo norte-americano. Ele é tão inteligente e leal ao povo norte-americano. E eu passei horas e horas com ele, seja no Salão Oval ou na Sala de Situação. Ele tem a inteligência, o comprometimento (...) e disposição que eu acho que o povo norte-americano merece no seu Presidente", afirmou, negando arrepender-se de ter insistido que Biden estaria apto para mais quatro anos de Governo.

A entrevista foi gravada na tarde de quinta-feira no Kim's Cafe, um restaurante local em Savannah, no importante estado da Geórgia, e foi transmitida na noite de quinta-feira.

A entrevista deu a Harris a oportunidade de afastar acusações de que estaria a evitar falar em ambientes em que não detinha o controlo, ao mesmo tempo em que conseguiu uma nova plataforma para apresentar mais detalhes da sua campanha antes do debate com Trump, em 10 de setembro. 

Desde que Biden abandonou a corrida, em 21 de julho, Harris conversou com alguns repórteres e até com influenciadores digitais, mas este foi o primeiro encontro formal com um meio de comunicação norte-americano.