Os três amigos*
Os que menos amamos, afinal, são os que mais nos acompanham. João Luís Gonçalves
Um cidadão tinha três amigos. A um dos amigos amava mais do que a si próprio. O outro amava tanto como a si. O terceiro amigo o homem amava menos do que a si. Um dia o cidadão foi acusado de um crime grave, levado a ser julgado perante o rei, corria o sério risco de ser condenado à morte. Como era costume, o acusado podia fazer-se acompanhar de alguém para o defender.
Os três amigos
O acusado pediu apoio ao primeiro amigo, já que se aproximava a morte, mas este nada quis saber, pelo contrário, este amigo foge da morte a sete pés. Apenas deu um pano ao homem para se cobrir. De seguida, o cidadão pediu apoio ao segundo amigo, mas este diz que o acompanha até à porta, que reza por ele e pela sua alma, mas teme entrar.
O acusado, finalmente, pediu apoio ao terceiro amigo. Este, o que menos amava, respondeu que o acompanhará para sempre, mesmo após a morte, pois, o bom amigo não falece à desgraça.
Significado
O homem condenado à morte significa todos os cidadãos deste mundo. Dos amigos, o primeiro é a riqueza, que o homem ama mais do que a si próprio, deu alma e corpo para a juntar, mas, na hora da morte, a riqueza não o acompanha.
O segundo amigo é a mulher e os filhos que o amam, mas o acompanham apenas até à porta da morte, após a qual limitam-se a rezar, mas nada mais podem fazer.
O terceiro amigo é a misericórdia que o homem ama muito pouco enquanto vive, mas, na hora da morte, é a única coisa que o acompanha no outro mundo. E é a misericórdia que, perante Deus, o pode livrar do inferno.
* Adaptação de um conto de Teófilo Braga in Contos Tradicionais do Povo Português, tomo II, Publicação D. Quixote, 1995