Haniyeh foi morto por "projéctil de curto alcance"
O líder político do Hamas, Ismail Hanieyh, foi assassinado por um "projéctil de curto alcance" disparado contra a sua residência em Teerão, numa operação que o Irão atribui a Israel, anunciaram hoje os Guardas da Revolução.
"De acordo com os inquéritos e as investigações, esta operação terrorista foi realizada através do disparo de um projétil de curto alcance com uma ogiva de cerca de sete quilogramas a partir do exterior do alojamento dos hóspedes [provocando] uma forte explosão", afirmou o exército ideológico da República Islâmica, num comunicado publicado pela agência oficial Irna.
Haniyeh, sepultado sexta-feira no Qatar, tornou-se conhecido em 2006, quando foi nomeado primeiro-ministro da Autoridade Nacional Palestiniana (ANP) após a vitória surpreendente do movimento Hamas nas eleições legislativas.
Há muito que defendia a conciliação entre a luta armada e a luta política no seio do grupo e mantinha boas relações com os líderes dos vários movimentos palestinianos.
Até agora, o líder do movimento islamita, 62 anos, vivia num exílio voluntário entre o Qatar e a Turquia.
Nascido no seio de uma família de refugiados em Ashkelon (Asqalan em árabe), a alguns quilómetros a norte de Gaza, iniciou as suas atividades militantes no seio do ramo estudantil da Irmandade Muçulmana na Universidade Islâmica de Gaza, de onde saiu o Hamas, antes de se tornar membro da associação de estudantes da Universidade Islâmica em 1983 e 1984.
Três anos mais tarde, juntou-se ao Hamas aquando da sua fundação, no momento em que eclodiu a primeira Intifada, uma revolta que durou até 1993. Durante este período, Ismail Haniyeh foi detido várias vezes por Israel e expulso durante seis meses para o sul do Líbano.
Em 2006, tornou-se conhecido em todo o mundo quando se tornou primeiro-ministro da ANP, na sequência da surpreendente vitória do seu movimento nas eleições legislativas.
Depois de ter liderado um Governo de unidade, comprometeu-se a trabalhar para a criação de um Estado palestiniano "na Cisjordânia e na Faixa de Gaza, com Jerusalém como capital", contrariando a linha oficial do Hamas, que não reconhecia essas fronteiras na altura.
Mas foi sob a sua liderança que eclodiu, em 2007, a quase guerra civil entre o Hamas e a Autoridade Palestiniana. Privado da sua vitória nas eleições legislativas, o movimento islamita tomou o poder na Faixa de Gaza à custa de confrontos mortíferos que deixaram viva a amargura entre os dois rivais até aos dias de hoje.
Mas a coabitação com a Fatah, o partido do Presidente Mahmoud Abbas, foi de curta duração. O Hamas expulsou-o pela força da Faixa de Gaza em 2007, dois anos após a retirada unilateral de Israel do território.
Em 2017, Ismail Haniyeh foi eleito chefe do gabinete político do Hamas, sucedendo a Khaled Mechaal, exilado no Qatar.
Em imagens difundidas pelos meios de comunicação do Hamas pouco depois do início do sangrento ataque a Israel, desencadeado a 07 de outubro de 2023, Haniyeh foi visto a conversar alegremente com outros líderes do Hamas no seu gabinete em Doha, assistindo a uma reportagem da televisão árabe que mostrava comandos do movimento a apoderarem-se de jipes do exército israelita.
A partir de Doha, participou nas negociações destinadas a conseguir um cessar-fogo e a libertar os reféns.
Haniyeh estava também sob a alçada do Tribunal Penal Internacional, cujo procurador principal solicitou mandados de captura contra ele e dois outros dirigentes do Hamas, Sinwar e Mohammed Deif, por crimes de guerra e crimes contra a humanidade. Foram emitidos pedidos semelhantes contra o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, e o ministro da Defesa, Yoav Gallant.
O seu papel na liderança do Hamas custou-lhe também os seus familiares mais próximos. Em abril, um ataque aéreo israelita em Gaza matou três dos filhos de Haniyeh, que acusou Israel de agir com "espírito de vingança e assassínio".
O Hamas afirmou que quatro netos do líder também foram mortos, bem como a sua irmã, num outro ataque no mês passado.
Apesar de mais de nove meses de guerra terem deixado Gaza em ruínas, Haniyeh insistia repetidamente que o grupo só libertaria os reféns se os combates cessassem definitivamente.