“A Corrida Mais Louca do Mundo” ou a disputa das televisões
Muitos dos leitores não se devem lembrar de uns desenhos animados, em que todos se atropelavam, para chegar em primeiro lugar. Valia tudo. Chamam-se “A Corrida Mais Louca do Mundo”. Na altura, ainda criança, impressionava-me a forma como todos procuravam chegar-se à frente, recorrendo a todos os subterfúgios possíveis e impossíveis.
Veio-me esta recordação de infância à memória por estes dias, quando acompanhei os canais de televisão, fazendo zapping entre eles, para ver notícias sobre os incêndios que assolaram parte da nossa Região por estes dias.
E assisti, de facto, a uma verdadeira “Corrida Mais Louca do Mundo”. Valia tudo para dar a notícia “mais sangrenta”. Miguel Albuquerque foi o alvo principal, claro. Quem dissesse mais mal é quem tinha mais tempo de antena.
Passando por cima do maior disparate, que foi o de se dizer que Miguel Albuquerque não estava na Região – Porto Santo é Região – porque já me acostumei ao desconhecimento, à ignorância nacional em relação às ilhas, aquilo foi um chorrilho de disparates, ainda por cima repetidos (à falta de outra reportagem) bastas vezes.
Por exemplo, não sei quantas vezes passaram-se declarações do presidente da Agência Nacional de Proteção Civil, da Quercus, do Sindicato Nacional da Proteção Civil e de muitos outros especialistas. Ou melhor dito especialistas, porque, depois, íamos ver o seu currículo e nada víamos na área da Proteção Civil.
Curiosamente, os que confirmavam a versão de Miguel Albuquerque – curiosamente ou talvez não os verdadeiros entendidos na Madeira – eram ostracizados. Não interessava passar a mensagem de que tudo correu como deveria ser, que o combate ao incêndio foi feito desde o primeiro momento da forma mais certa, que não se poderia colocar bombeiros em zonas onde não poderiam chegar, só para fazer-se número e fazer “show-off” para a população.
Como foi de pasmar declarações de que era falso que as descargas do “Canadair” poderiam matar, danificar casas e infraestruturas e destruir plantações agrícolas e que poderiam atuar em toda a ilha, sem problemas e sem constrangimentos. Mas, um alto responsável do esquadrão de “Canadairs” viria repor a verdade: que era mesmo um perigo e que só era recomendável a descarga em locais afastados das zonas urbanas e agrícolas.
Estas declarações não as ouvi mais. Mas, depois dessas, no mesmo canal, voltei a ouvir os disparates iniciais.
Sei que é Agosto, que é difícil encontrar notícias. Mas, critérios como os da imparcialidade e da verdade devem sempre imperar. Ouvir só por ouvir, sem verificar se ditos especialistas são mesmo especialistas, não é um bom sinal.
Às televisões pede-se maior responsabilidade, que não sigam os maus exemplos das redes sociais. Apontam tanto as falhas, o pouco rigor das redes. E estão a cair no mesmo erro. A se deixarem orquestrar por interesses políticos…
Esperemos que, com o fim dos incêndios, com as coisas mais calmas, as televisões façam uma séria introspeção. E aprendam, já agora, com a comunicação social madeirense, essa sim imparcial e verdadeiramente profissional ao longo de todos estes dias, mais uma vez.
Ângelo Silva