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Deixar arder, até quando?

“Poucos dias após as eleições regionais, a Madeira enfrentou incêndios de grande proporção. O risco era evidente e o PS-Madeira alertou inúmeras vezes para esse facto. Não apenas falando verdade, mas apresentando na Assembleia Legislativa da Madeira diversas propostas para a gestão do espaço florestal e dinamização do setor primário, em particular da criação de gado nas serras, como forma de reduzir os riscos de incêndio. Propostas que foram liminarmente rejeitadas e menosprezadas pela maioria de bloqueio PSD/CDS ao longo da última legislatura. Pelas piores razões, a consequência é hoje do conhecimento geral.”

Pode parecer estranho este primeiro parágrafo, mas não se trata de um lapso. Antes uma evidência, retirada do meu artigo de opinião publicado a 25 de outubro de 2023. Infelizmente a história repete-se, menos de um ano depois, e com maior gravidade. Nesta fase de rescaldo parece-me importante olhar a factos, que são demasiado evidentes para serem novamente ignorados.

A Madeira ardeu, sofreu consequências irreparáveis, e de nada nos valeu o já habitual discurso tranquilizador de que somos superiormente liderados e pioneiros a nível mundial seja em que matéria for. Aliás, o pioneirismo foi substituído por um displicente e despreocupado “deixa arder”, e o resultado está à vista. Pelo meio, notícias de que populares afetados pelos incêndios tinham receio de falar ou dar a cara com medo de represálias, enquanto jornalistas se queixavam de pressões e restrições no acesso à informação.

Independentemente de tudo o que uma eventual comissão de inquérito ou comissão independente venham a demonstrar, o Presidente do Governo não pode apenas vir dizer que “o tempo irá ajudar a recompor as vidas de todos e da nossa ilha”. Não, porque décadas são demasiado tempo! É preciso aprender com estas duras lições! É preciso mais e melhor! O tempo é de mudar, agir de forma diferente e sobretudo, alterar prioridades!

De igual forma que me parece redutor andarmos a discutir meios aéreos e respetivos custos, quando o foco deveria estar na prevenção. Muita da nossa classe política opta por dizer o que parece mais proveitoso para si no momento, mas aquilo que seria desejável era identificar nesses atores políticos a capacidade de implementar uma estratégia de prevenção, suportada em medidas concretas. Prevenir incêndios é muito diferente de os combater. Prevenir incêndios é muito mais do que discutir quem paga o quê, em função de quem está ou não no Governo da República. Prevenir incêndios passa sobretudo pela atuação do Governo Regional e das suas políticas.

Um Governo Regional que tem ignorando todas as propostas que o PS foi apresentando na ALRAM ao longo dos últimos anos, bem como vários partidos que ora aprovam Programas de Governo, ora viabilizam orçamentos regionais, mas que agora tentam disfarçar o que já ninguém consegue esconder. Onde está o PAN, depois dos incêndios que ocorreram entre outubro de 2023 e agosto de 2024? O que fez para alterar ou prevenir estas calamidades desde que se aliou ao PSD? Votou contra as propostas do PS enquanto se dedica a votos de pesar pelo infeliz falecimento do lince. De igual modo, seria importante saber o que pensam os partidos antieuropeístas como o Chega ou o PCP, acerca da atuação do Mecanismo Europeu de Proteção Civil da União Europeia que foi fundamental para complementar os meios de combate ao fogo no terreno.

Todos temos de aprender com estas lições, pois o preço a pagar é cada vez mais elevado, até a situação ser irreversível! Obrigado a todos os que combateram os incêndios e a minha profunda solidariedade a todos os que foram afetados!