MAIS INCÊNDIOS
Não tenho nada contra os direitos das minorias, mas estes não se podem transformar em ditaduras
1. É nos tempos difíceis que se revelam os líderes e as lideranças. Os nossos líderes são pífios e as lideranças incompetentes.
O comportamento do Presidente do Governo da Madeira durante o incêndio que eclodiu a 14 de Agosto é, no mínimo, lamentável e indigno de quem ocupa tão elevado cargo. Num momento em que a ilha se encontrava a braços com uma catástrofe de proporções devastadoras, a sua ausência prolongada e a incapacidade de liderar de forma efectiva demonstram uma falha grave de carácter e de responsabilidade.
A decisão de permanecer de férias no Porto Santo, enquanto a Madeira ardia e as chamas se alastravam, revela uma desconcertante insensibilidade face ao sofrimento da população e aos desafios enfrentados pelos bombeiros e pelos demais agentes de protecção civil.
Deu um salto com um pé à Madeira. A sua breve incursão pelos locais afectados e uma conferência de imprensa fugaz não são suficientes para mascarar a flagrante falta de compromisso com os madeirenses.
Este é um tempo que exige dos líderes uma presença constante, uma capacidade de decisão rápida e informada, e, sobretudo, uma profunda empatia para com aqueles que estão a sofrer. Em vez de demonstrar estas qualidades, o Presidente optou por regressar às suas férias a 19 de Agosto, quando a situação estava longe de estar resolvida. Tal atitude revela uma desconexão chocante com a realidade e um desrespeito absoluto pelo dever de serviço público.
A liderança em tempos de catástrofe exige sacrifício pessoal e um compromisso inabalável com a segurança e o bem-estar da comunidade. A actuação de Miguel Albuquerque, infelizmente, ilustra o oposto: uma liderança fraca, ausente e descomprometida, que, em vez de inspirar confiança e união, apenas acentua a sensação de abandono e desespero entre os cidadãos. Num momento em que a Madeira mais precisava de um líder, teve, em vez disso, uma figura distante e indiferente. Tal comportamento é inadmissível e merece a mais severa reprovação.
2. Miguel Albuquerque disse que não recebia lições de ninguém. Claro que não recebe lições de ninguém. Ou não estivéssemos nós na presença de uma profundíssima e inefável sabedoria, inigualável na sua extraordinária e arrebatadora capacidade de ser ao mesmo tempo sublime, arcana e visionária. Não há dúvida de que estamos diante de um génio iluminado, cuja brilhante e insuperável perspicácia é tão erudita quanto magistral e premonitória. As suas palavras elevadíssimas são incisivas, penetrantes e avançadíssimas, verdadeiramente revolucionárias e inovadoras. O seu pensamento é de uma transcendental e incomensurável profundidade, incontestável em cada argumento, enigmático, críptico e inatingível para o comum dos mortais. Verdadeiramente, a sua superioríssima e excelsa sabedoria coloca-nos todos num patamar inferior, deixando-nos num estado de atónito espanto.
3. O que tem de ser dito, tem de ser dito. No meio desta monumental trapalhada, é crucial reconhecer e honrar a postura firme e dedicada dos Presidentes de Câmara. Leonel Silva, Ricardo Nascimento, Célia Pessegueiro, Dinarte Fernandes — esses sim, demonstraram o que é liderança. Enquanto o Presidente do Governo optou por continuar as suas férias, alheio à realidade que assolava o povo, e o Secretário da tutela se ocupava em fechar a sua casa no Porto Santo, os Presidentes de Câmara estavam onde deviam estar: ao lado dos seus munícipes, partilhando das angústias e dificuldades de quem representam.
Esses autarcas, ao contrário das figuras mais altas do Governo, não se esconderam atrás de responsabilidades delegadas ou compromissos pessoais. Mostraram liderança corajosa, aquela que só se manifesta na proximidade com o povo, enfrentando de frente os desafios que surgem. E não são apenas eles que merecem louvor, mas também os Presidentes de Junta, que com igual dignidade e compromisso, estiveram presentes junto aos seus fregueses em momentos de verdadeira necessidade.
Bravo. Liderança é isto mesmo: estar presente, enfrentar as dificuldades junto com aqueles que se serve, e nunca, jamais, abandonar o posto em tempos de crise. Que fique claro, o verdadeiro exemplo de liderança está nas mãos desses Presidentes de Câmara e Juntas de Freguesia, enquanto o Presidente do Governo e o seu Secretário da tutela falharam miseravelmente em estar à altura das circunstâncias.
4. Andam, por aí, uns tantos que confundem o rabo com as calças. Para eles, criar restrições para uso de fogo de artifício durante o verão é o mesmo que fazer um espectáculo pirotécnico sem ruído ou substituindo-o por luzes e drones para não incomodar diversos segmentos da população e os animais.
É que é mesmo a mesma coisa. Tal e qual. Defender restrições de fogos de artifício durante o verão é uma questão de bom senso e responsabilidade pública. Quando as temperaturas são elevadas, os solos estão secos e o risco de incêndios florestais é alto, qualquer faísca pode ser suficiente para iniciar uma tragédia. Os fogos de artifício, por sua própria natureza, são imprevisíveis e podem causar incêndios que destroem florestas, ameaçam vidas humanas e animais, e destroem propriedades. Restringir o seu uso em períodos críticos do ano é uma medida preventiva essencial para evitar desastres de grandes proporções como o que vivemos.
Não tenho nada contra os direitos das minorias, mas estes não se podem transformar em ditaduras sobre os direitos das maiorias. A defesa dos direitos das minorias tem sido uma das bandeiras mais importantes do progresso social nas sociedades modernas. Mas o exagero das agendas de alguns faz com que, muitas vezes, esta defesa seja elaborada de maneira desmesurada, acabando por entrar em conflito com os direitos das maiorias. A busca incessante pela salvaguarda de todos os direitos das minorias, sem uma ponderação equilibrada dos interesses em jogo, pode conduz a uma disfuncionalidade social que compromete a harmonia e a coesão do tecido social. A imposição de normas culturais ou comportamentais de uma minoria sobre a maioria pode ser percebida como uma forma de opressão inversa, onde a maioria se vê limitada na sua liberdade e identidade em nome de um suposto respeito pela diversidade. Quando os direitos das minorias são priorizados absolutamente, sem uma consideração adequada pelos direitos da maioria, arrisca-se fomentar divisões e antagonismos que minam a coesão social.
E é isto que separa a proposta da Iniciativa Liberal de restringir o uso de fogo de artifício nos meses de verão, da proposta do PAN de condicionar os espectáculos tradicionais para assim defender interesses de minorias e dos animais. Não serão precisos muitos dedos de testa para perceber a diferença.