A madeira arde
A experiência mostra-nos a necessidade de prevenir, programar, prever e prover
O título deste artigo é uma verdade universal. A madeira arde. Infelizmente, a Madeira também arde.
No momento em que escrevo este artigo, a Madeira arde há 10 dias.
O problema dos incêndios florestais não é novo nem exclusivo de Madeira ou de Portugal. No entanto, a preocupação aumenta quando “nos arde a casa”.
Em Portugal, desde os anos 70 do século XX, os incêndios florestais têm aumentado de frequência, dimensão e intensidade.
Se compaginarmos a história, podemos verificar que, por exemplo, nas Posturas da antiga Câmara de Évora (1375 a 1395) se proibia o fogo em matos, onde existissem sobreiros e azinheiras, para prevenir incêndios. No Código Administrativo de 1836 é imposto, aos municípios, a obrigatoriedade de extinguirem os incêndios florestais e socorrer as populações.
Na Madeira, há relatos de grandes incêndios desde o século XV, nomeadamente, em 1419, 1838, 1910, 1919, 1994, 1995, 1996, 1997, 2000, 2010, 2012, 2013 (foi necessário retirar 150 doentes do Hospital dos Marmeleiros, 2016 (houve 3 mortes e mais de mil desalojados).
Todos nos lembramos do grande incêndio de Pedrógão Grande, em Junho de 2017, onde morreram 66 pessoas, 254 ficaram feridas e arderam mais de 500 habitações.
Esta constatação não deve impedir-nos de tentar, por todos os meios, impedir que tais factos voltem a acontecer. A experiência mostra-nos a necessidade de prevenir, programar, prever e prover. Para evitar as situações e para poder actuar com eficácia quando elas acontecem.
Na presente situação, têm vindo a público as mais desencontradas opiniões. Por um lado, os responsáveis políticos têm desvalorizado os danos e a situação e afirmado que tudo tem sido feito, quer no planeamento quer na acção/reacção, da melhor maneira possível e tendo em conta o desenrolar dos acontecimentos e as condicionantes técnicas. Por outro lado, diversas personalidades e entidades regionais e nacionais, têm exprimido opiniões críticas às acções desenvolvidas e às decisões tomadas, em especial, a partir do dia 14 de Agosto.
Por exemplo, o Doutor Miguel Meneses de Sequeira, Botânico doutorado em Taxonomia Vegetal, Professor da Universidade da Madeira, autor de vasta obra científica, ex-Presidente do Instituto das Florestas e da Conservação da Natureza da Madeira, disse à CNN Portugal e à Rádio Renascença: “Grande parte dos valores naturais da Madeira estavam precisamente nestas ravinas que vemos arder, seja em termos de flora, seja em termos de fauna”. E ao FN, a 22 de Agosto, “Não só ardeu Floresta da Laurissilva, como zonas da Rede Natura 2000 e do Parque Natural da Madeira”.
José Velho da Costa, secretário-geral do Sindicato Nacional da Protecção Civil, disse: “É no ataque inicial que se resolviam alguns problemas. Provavelmente, não estaríamos aqui com uma catástrofe ambiental”. Responsabilizando. Pelo facto, o presidente da Protecção Civil da Madeira e o secretário da tutela.
Tento ser justo nas minhas opiniões. Não é possível decidir, em especial em situações como esta, colhendo a concordância universal. Eu não gostava de estar na posição dos governantes que tiveram e têm de resolver as situações. No entanto, é para isso que lá estão.
Percebo a tentativa de minimizar os estragos e de justificar as opções.
Julgo que seria mais adequado, contudo, proceder com alguma sensatez e alguma consideração pela opinião pública, e pela inteligência das pessoas, nas declarações e na comunicação.