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Medo

Mas existe alguma infraestrutura pública mais importante do que a nossa floresta? As decisões tomadas permitem-me questionar…

Escrevo de fora da nossa Ilha e, confesso, a medo, apesar de não necessariamente pelas razões que imaginam.

É verdade que não percebo nada de combates a incêndios pelo que todas as minhas eventuais interrogações não valem absolutamente nada. Nem porventura interessam, mas esse é um risco que todos os meses estou disposto a correr…

Tenho, no entanto, o direito de opinar apesar de gostar pouco da sensação de bater em quem está já estendido no chão, mesmo quando parece ser o próprio a ter optado por se colocar nessa posição, com tanto tiro no pé consecutivo que foi dando.

O tema levanta imensas interrogações sobre o antes, o durante e o depois, que penso deverão merecer reflexão e mesmo os mais ignorantes, como eu, podem perder tempo a falar sobre isso, desde que o objectivo seja nobre.

Qual é, então, o meu medo?

Vivo, tal como parte significativa da população, do Turismo. Que tem como grande activo, apesar de tudo e de todos, a Natureza. E não sei o que vou encontrar quando voltar mas, com 6.000 m2 de área ardida, temo o pior. Não deve ser mesmo nada bonito de se ver, o que agora temos para mostrar em parte significativa da nossa Ilha.

E quando oiço dizer que a preocupação maior foi cuidar da protecção de núcleos urbanos e infraestruturas públicas, em relação a este segundo aspecto pergunto, a tremer das patinhas só de pensar na resposta: - mas existe alguma infraestrutura pública mais importante do que a nossa floresta? As decisões tomadas permitem-me questionar…

Claramente, tenho um entendimento diferente! A não ser assim, nunca colocaríamos a nossa integração num plano de protecção civil nacional como um ataque à autonomia, ainda para mais quando não temos capacidade para, sozinhos, lidarmos com o problema.

Não deixaríamos arder para depois atacar, seja com helicópteros, seja com Canadairs espanhóis. Não diríamos que não à “oferta” de mais meios humanos, venham eles de onde vierem.

À mais pequena fogueira, eu optaria por atacar com um exército! Logo! E preferiria esbanjar recursos em prevenção, mesmo que deste tipo, do que deixar andar e esperar que os astros se alinhem.

Para além deste receio, temo pela curva de aprendizagem que tantas e tantas situações passadas nos trouxeram. Só a título de exemplo, oiço falar tantas vezes de drones, não seriam uma opção para monitorizar as nossas serras?

E o que dizer do número da replantação de árvores em cima de terra queimada, ainda a fumegar, quando depois sabemos o que acontece com as infestantes, passado o tempo da visibilidade do problema e quando as câmaras já não estão no local?

Dói-me muito ver o que tenho visto e assistir ao que tenho assistido. Não será com caracteres que se apagará nenhum fogo, até porque no meu caso eles são poucos mas, caramba, oiçam as pessoas, sem preconceitos nem lógicas partidárias, que a nossa Natureza vale mais, muito mais, do que isso tudo!