DNOTICIAS.PT
Artigos

“No dealbar da privatização do SNS”

No último domingo de agosto, tradicional mês de férias, aproveitemos para comentar enquanto os governantes estão de férias e não nos ouvem. Façamos, pois, uma reflexão sobre o nosso futuro, das nossas famílias e das gerações vindouras.

Acredito que estamos no dealbar da futura privatização do Serviço Nacional de Saúde. O contexto atual do serviço de saúde em Portugal aponta inequivocamente para tal. Apesar dos políticos responsáveis pela saúde fazerem alarde de um serviço de saúde quase perfeito, é pura mentira e eles sabem disso mas não o admitem. A verdade é que na prática o SNS/ SRS é um negócio de muitos milhões e despertou a cobiça dos lóbi da saúde. Está montado um complô para a transição da saúde pública para os privados. De outro modo não se compreende que se fechem maternidades obrigando as grávidas a percorrerem quilómetros para encontrar um serviço de obstetrícia até darem à luz numa ambulância, enquanto os hospitais se neguem a receber doentes urgentes. Que se fechem urgências e que não haja solução para lista de espera em cirurgias. Que o INEM não tenha capacidade de resposta para as solicitações de emergência e o serviço helitransportado, muito mais rápido, não pode funcionar porque os heliportos tardam a ser certificados pela ANAC. Que os médicos e enfermeiros estejam em greve porque não há entendimento com a tutela. Juntemos a toda esta panóplia de maus serviços o grito de alerta da APCP alegando que cerca de 70 mil pessoas estão a sofrer por falta de cuidados paliativos e que quase metade dos doentes indicados, no ano passado morreram antes de ter vaga. Para a falta de medicamentos o INFARMED não tem ou não lhe interessa arranjar uma solução. Até para uma simples consulta para o médico de família é preciso esperar 2 ou 3 meses quer a nível nacional ou regional.

Experimente o leitor marcar uma consulta para o médico de família, por exemplo, no Centro Saúde do Bom Jesus e as funcionárias dizem-lhe, laconicamente: Deixe o nome e o contacto que a médica fará o favor de entrar em contacto quando houver vaga, como se a doença pudesse esperar dias, semanas ou meses. Sabemos apenas qual o nome do/a médico/a mas não conseguimos consulta com ele/a. Perante tal disfunção nos serviços de saúde, o bem mais precioso que temos, que alternativa existe se não recorrer ao privado, isto se tiver possibilidades financeiras para tal porque se não vai para a porta do serviço de urgência onde lhe dão uma pulseira verde ou amarela e espera várias horas, até, em alguns casos, morrer à espera. Não, não estou a exagerar, basta acompanhar as notícias diárias e chegarão à mesma conclusão. Acreditam agora que o SNS/SRS caminha a passos largos para a privatização?

Nós população temos falta de cultura democrática e até desconhecemos os nossos direitos mas fazemos altos festejos quando o nosso partido ganha eleições e não queremos saber se o Governo governa bem ou mal ou se se preocupa com o bem estar de quem os elegeu. Porque foi o nosso partido a ganhar, aceitamos pacificamente todas as meias verdades e mentiras que os governantes nos impingem. Vejamos, no caso em apreço, e façamos as contas às verbas em jogo. Para a Segurança Social a entidade patronal desconta 23.75% sobre o salário mensal de cada trabalhador. Por sua vez o trabalhador desconta do seu vencimento mais 11%. Ou seja a S.S arrecada 34.75% sobre o vencimento mensal de cada trabalhador. Agora vejamos. Em 2023 o saldo positivo da S.Social foi de 5.485 milhões. Juntemos-lhe mais os 1.028 milhões do O.E. e agora digam-me se, com este dinheiro, os portugueses merecem as manigâncias que acima mencionei. Não seriam estas verbas suficientes para um serviço social condigno? Serão os nossos governantes incompetentes para geri-los ou haverá interesses inconfessáveis por trás do SNS? Se acompanharam o raciocínio compreenderão agora porque este é um negócio apetecível para os privados.

Vote no partido a, b ou c mas esteja atento porque o lóbi do poder económico é sorrateiro, tem muita força e não se compadece de ninguém, eles apenas pensam em lucro fácil e pouco se importam com o bem estar social que deveria ser defendido pelo poder político. Temos os exemplos da privatização dos CTT, da Banca e da TAP onde os serviços funcionam mal porque os trabalhadores são dispensados para poupar verbas nos recursos humanos e os cidadãos ficam horas intermináveis em filas de espera.

P.S. Em tempos desvarios, desmentidos, afirmações e confusões, uma palavra de solidariedade para os nossos bombeiros e todos os que lutam abnegadamente para proteger a vida e bens dos madeirenses, enquanto os eleitos se enrolam na areia.